O livro paga-se, a Wikipedia não. Muitos livros têm uma imagem a dizer “não à cópia”. Mas será que não há cópia?
O livro é Viagens 9, para o 9º ano, da Texto Editora, ISBN 978-972-47-3601-3 e criado “mais ou menos” por Arinda Rodrigues, João Coelho. Custa 17 Euros e 15 cêntimos, segundo esta fonte.
O livro contém “adaptações” da Wikipedia, conforme consta numa página que diz “Adaptado de Wikipédia e de Geografia Universal – Grande Atlas do Século XXI, 2005.
A denúncia é feita pela blogger Maria João Nogueira no seu blog pessoal “Jonasnuts”. Como mãe e como geek, a Maria João escreveu no seu blog que acha “no mínimo curioso que um manual que se quer científico, se inspire ou adapte conteúdos de uma fonte que, precisamente por causa de ser comunitária, é altamente falível” e alertou que o “facto da Wikipédia ser à borla….. o manual, nem tanto”.
O Tugaleaks contactou a Texto Editora, no sentido de apurar se isto era algo comum, mas, vários e-mails e dois telefonemas resultaram em silêncio.
A blogger afirma ainda que existem mais fontes usadas como a Revista Visão e remate que “[a]cho extraordinário que uma indústria, a livreira, que anda a meter carimbinhos de “não à cópia” se inspire depois na Wikipédia e noutras fontes que, de científico têm muito pouco, e que me cobre, por informação a que posso aceder gratuitamente”.
Contactámos a blogger que, em poucas horas e ao contrário da Texto Editora, nos respondem de volta ao e-mail. Conta-nos que o problema parece incidir nas fontes credíveis, pois “não vejo problema nenhum no facto de se recorrer a fontes externas, desde que credíveis. Não coloco a Wikipédia na lista de fontes credíveis para um livro escolar. Aquilo que serve para que o meu filho recolha informação para um trabalho, não serve para um livro escolar“.
Sugeriu ainda que a Texto Editora “largue o negócio dos livros escolares” pois “à informação da Wikipédia eu acedo sem precisar de intermediários pagos”.
O Tugaleaks em finais do ano passado publicou uma história onde um professor tinha proibido os seus alunos de tirarem fotocopias do livro que, só por acaso, tinha sido ele o autor. O caso foi até discutido numa audição parlamentar em comissão de educação. O referido livro tinha também o símbolo “não à cópia”. A Maria João comentou, em relação ao símbolo que “preferia que tivessem optado pelo “Não há cópia“. O slogan “Não à cópia” (e as campanhas correspondente) que pretende sensibilizar as pessoas para uma questão pertinente é apenas a prova gritante de que a indústria dos editores (e a do entretenimento, já agora), está muito longe de saber comunicar com os seus consumidores, e está claramente a insistir num modelo de negócio em vias de extinção”.
E o leitor, acha que citar a Wikipedia e a Revista Visão em materiais escolares é sensato?