Passado alguns dias de participar numa acção pacífica de protesto na inauguração da Feira do Livro em Lisboa e ter falado para as câmaras da SIC, foi suspenso pela sua entidade patronal.
A cronologia de uma luta
1 – Face ao incumprimento do pagamento pontual dos salários, de acordo com o estipulado nos contratos de trabalho, em Fevereiro de 2011 os trabalhadores da Bulhosa reuniram e decidiram sindicalizar-se como forma de dar a conhecer à empresa o seu descontentamento e atenção relativamente à situação verificada.
2 – Tendo esta conhecido novos agravamentos, os trabalhadores reuniram-se e decidiram eleger delegados sindicais para que fosse possível a constituição de uma comissão sindical.
3 – A mesma, cumpridas as formalidades legais, solicitou, por vontade dos trabalhadores, uma reunião com a administração. Apesar dos salários em atraso a reunião foi marcada para o Porto (09 de Janeiro de 2012). A comissão sindical e um representante do CESP compareceram e deram conta do descontentamento dos trabalhadores e da sua preocupação com a situação da empresa. No final da reunião foi solicitada a assinatura de uma acta conjunta e a disponibilização do «Documento Único» onde estará expressa a real situação da empresa.
4 – Passado um mês ainda não existia qualquer resposta por parte da administração. A situação conheceu um agravamento.
5 – A comissão sindical contactou todos os trabalhadores das lojas de Lisboa (Cascais, Oeiras, Linda-a-Velha, Campo de Ourique, Amoreiras, Twin Towers, Campo Grande) afim de perceber qual seria a sua posição relativamente a alguns pontos, nomeadamente a realização de uma queixa ao ACT – via sindicato uma vez que já tinham sido realizadas queixas individuais – e a realização de uma greve. O primeiro ponto colheu a unanimidade dos trabalhadores consultados e que se mostraram disponíveis para responder. O segundo ponto obteve uma maioria de respostas favoráveis à realização da greve.
6 – Foi emitido um pré-aviso de greve para dia 17/02/2012. Face ao mesmo a administração convocou uma reunião com a comissão sindical, realizada nos escritórios da empresa na LX-Factory.
7 – Relativamente às exigências dos trabalhadores expressas no pré-aviso a administração não apresentou qualquer contra proposta.
8 – Após esta reunião a administração da Bulhosa, ignorando a existência de interlocutores mandatados, decidiu convocar todos os trabalhadores para uma reunião realizada fora do horário de trabalho. Compareceram nove.
9 – A administração tentou através de vários elementos que lhe são próximos pressionar os trabalhadores individualmente e os seus representantes afim da anulação da convocatória de greve.
10 – Ninguém dos representantes da administração presente nas anteriores reuniões fez chegar à comissão sindical uma proposta credível de negociação. Isto é, algo sustentado em documentos e não em intenções.
11 – A greve realizou-se com uma adesão de cerca de 90%. Verificaram-se vários atropelos relativos ao direito à greve que foram denunciados ao ACT. Encerraram as lojas de Linda-a-Velha, Campo de Ourique, Twin Towers e Campo Grande. As lojas de Oeiras e Amoreiras abriram com trabalhadores “substitutos” alguns vindos propositadamente do Porto. A loja de Cascais funcionou normalmente com dois trabalhadores que não aderiram à greve.
Depois dos acontecimentos acima relatados a administração voltou a convocar nova reunião, fora do horário de trabalho, com todos os trabalhadores. O discurso incidiu sobre as dificuldades da empresa e um apelo ao continuar do sacrifício dos trabalhadores.
A empresa foi disponibilizando aos trabalhadores o recurso a vales retirados das caixas. O montante total era aprovado pela administração. Há cerca de 2 meses este processo foi alterado. Os vales autorizados são processados por transferência bancária. Os montantes pedidos são sujeitos a aprovação. A administração decide qual o valor a tranferir e quando.
A comissão sindical é da opinião que não se deve partir já para uma nova greve. Assim, realizou-se uma reunião da comissão em que estiveram presentes outros trabalhadores. A convocatória foi realizada verbalmente. Nessa reunião foi decidida uma acção de protesto na inauguração da Feira do Livro de Lisboa. Foi colocada uma tarja no início da feira e foram distribuídos vários folhetos. Um dos trabalhadores deu uma entrevista à SIC. A administração, no final do dia, indagou as lojas acerca de alguns dos trabalhadores presentes no protesto estarem ou não em “horário”. A resposta foi negativa. Quem lá esteve pode fazê-lo.
A 27 de Abril de 2012, o trabalhador que deu a referida entrevista foi suspenso via e-mail.
Entrevista à SIC
A Administração da Bulhosa enviou um comunicado onde se pode ler “A administração da empresa não pode deixar de alertar os trabalhadores (…) para estas posições públicas lesivas da empresa, bem como dos interesses e direitos laborais”.
Download do comunicado aqui
O Tugaleaks denuncia esta situação. Está claro que além do relatado anteriormente, o direito à liberdade de expressão foi violado.
Neste momento ainda existe o ordenado de Março atrasado para a maioria dos trabalhadores e o Fevereiro foi pago esta semana.
É também engraçado que a própria empresa não aprenda com os livros que vende, como é o caso de Corporativismo/ Fascismos/ Estado Novo e Razão de Estado e Democracia. É caso para pedir Haja Luz!.
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