Edward Snowden, o ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos e antigo informático da CIA, foi definido como traidor no portal da Wikipédia. Snowden passou de dissidente a traidor, numa alteração que foi realizada pelo Senado Norte-americano, no início deste mês.

A alteração de “estatuto” para traidor aparece na Wikipédia, após a garantia de asilo temporário por um ano na Rússia e a recusa de Putin em extraditar o ex-analista, o qual tornou público os detalhes do programa PRISM (um programa de espionagem aos cidadãos norte-americanos), para os Estados Unidos da América (EUA).

Através do link da Wikipédia ao rever a atividade des alterações à página, é possível aceder ao IP da entidade que efetuou o update do texto. O número de IP 156.33.241.5 é dos serviços informáticos do Senado Norte-americano, como se pode verificar no link de pesquisa de IP.

 

Estados Unidos manipularam a Wikipédia para Snowden passar de dissidente a traidor WikipédiaPhilippe Lopez – AFP – Getty Images

 

A ideia de classificar como traidor o homem que revelou ao mundo informações secretas sobre a vigilância que incidia sobre a Internet e os telefones de cidadãos norte- americanos, com a agravante de os dados serem arquivados por tempo indeterminado, pretende por si só alterar a opinião pública americana, na lógica do traidor não do sistema, mas de toda a política dos EUA contra o terrorismo.

 

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55% dos eleitores norte-americanos consideram Snowden um informador

Numa altura em que a maior parte dos norte-americanos define Snowden como um informador dissidente, tentar considerar o ex-analista como traidor, poderá ter em vista a alteração da opinião pública, tendo em conta que os EUA estão a trabalhar na defesa dos seus cidadãos, assim como das suas representações diplomáticas, de ameaças terroristas.

Na semana passada, foi divulgada a notícia de que várias embaixadas seriam encerradas, uma vez que escutas pronunciavam um ataque terrorista da Al-Qaeda a representações diplomáticas americanas em países árabes.

Por outro lado, e com a deterioração das relações diplomáticas EUA-Rússia, após o asilo temporário oferecido por Putin a Snowden, o governo norte-americano pode sair enfraquecido perante a opinião pública, na medida em que, paira no ar a violação de privacidade dos cidadãos, o que por si só é antidemocrático, para justificar o acesso a informações que garantam a defesa dos EUA além fronteiras.

Perante tudo isto, uma sondagem realizada pela Universidade de Quinnipiac, nos EUA, revela que 55% dos eleitores norte-americanos consideram Snowden um informador que efetuou uma denúncia, enquanto 34% acreditam que o ex-analista é um traidor. Cerca de 11% dos entrevistados revelam indecisão quando foram questionados.

A importância da sondagem, revelada no dia 01 de Agosto, reside ainda no resultado de que 45% dos entrevistados, contra 40%, revela que a luta anti-terrorista está a ir longe demais por parte do governo, uma vez que a violação dos direitos de cada cidadão é cada vez maior. Resultado este que difere do ano de 2010 em que cerca de 63% dos eleitores contra 25%, consideravam que todas as diligências efetuadas pelo estado norte-americano contra o terrorismo, eram adequadas para proteger o seu país.

 

Assange: “A população mundial está em dívida para com o analista informático Edward Snowden”

No passado dia 09 de Agosto, com o objetivo de transmitir “mais confiança” aos cidadãos norte-americanos, o presidente dos EUA, Barack Obama anunciou medidas para que o programa de vigilância da Agência de Segurança Nacional seja “mais transparente”.

Com este pequeno volte-face do sistema norte-americano, o fundador da organização WikiLeaks, Julian Assange, refere em comunicado que a população mundial está em dívida para com o analista informático Edward Snowden.

“Estão a surgir reformas, e o Presidente e o povo americanos, assim como a população mundial, estão em dívida para com Edward Snowden”, diz Assange em comunicado.

Para o fundador da Wikileaks nunca teria existido qualquer revisão dos programas de vigilânica norte-americanos se o ex-analista da NSA, não tivesse revelado o que estava a acontecer.

 

A mais recente entrevista de Snowden

Esta última terça-feira, dia 13 de Agosto, o jornal The New Your Times, publicou uma entrevista do jornalista Peter Maass, da “Times Sunday Magazine”, a Eduard Snowden. Em jeito de introdução, o artigo refere que a entrevista foi efetuada através de “encriptação”, de modo a evitar a vigilância das comunicações por computador.

Quando questionado sobre a razão de ter escolhido a realizadora de documentários, Laura Poitras, e o repórter do jornal britânico The Guardian, Glenn Greenwald, para revelar os detalhes do programa PRISM, o ex-analista da NSA classifica estes dois profissionais como sendo destemidos, não tendo qualquer relutância em informar os cidadãos sobre a verdade.

Na entrevista ao jornalista Peter Maass, da Times Sunday Magazine, Snowden considera que “depois do 11 de Setembro muitos grupos de comunicação social nos Estados Unidos abdicaram do papel que devem ter como contra poder, da responsabilidade jornalística para desafiar o excesso de governamentalização, por receio de serem vistos como antipatrióticos e, por isso, serem castigados pelo mercado”.

Para o ex-analista “Laura e Glenn estão entre os poucos que têm informado sem medo sobre temas controversos durante este período”, lê-se na entrevista.