Olá,

O meu nome é Rui Cruz e sou o diretor de informação do Tugaleaks. Criei o Tugaleaks em finais de 2010 para divulgar informação que o mainstream media não divulga.

Hoje, vítima de uma perseguição pela Polícia Judiciária e pela sede de vingança do Ministério Público, impedido de aceder à Internet por uma juíza de instrução que não percebia absolutamente nada do tema que julgava, venho esclarecer alguns pontos que ficaram de fora do que foi dito pelo mainstram media em relação à operação caretos.

Em suma, venho enumerar, através desta mensagem escrita neste órgão de comunicação social por mim, mas publicada pela minha irmã (já que eu não posso aceder directamente à rede das redes), quem quer destruir o Tugaleaks e os motivos para tal.

Assim, sem ordem particular, as entidades e pessoas que querem ver o Tugaleaks acabado são:

 

1 – Polícia Judiciária

A PJ tem desde 2012 tentado “calar” o Tugaleaks e, especificamente, eu. Conforme descrito neste site, o Inspector-Chefe Rogério Bravo sempre foi um assíduo visitante ao meu domicílio e da minha vida. Em relação à busca de 2012, onde eu achei terem existido indícios de não cumprimento legal e formal de algumas medidas, apresentei meses mais tarde uma queixa contra o referido inspetor. Essa queixa foi arquivada recentemente, mas o inspetor quando inquirido disse desejar “procedimento criminal”. O processo NUIPC é 832/14,2TASTB e foi arquivado porque era a palavra deste inspetor contra a minha.

Mas em Janeiro desde ano, dias depois de saber que o meu processo de 2012 onde existiu a primeira busca tinha sido arquivado, o Inspector-Chefe que presidiu ás duas buscas efetuadas à minha casa (a de 2012 e a da operação C4R3T0S) escreveu isto numa resposta minha neste grupo do Facebook e neste post: “worta sempre”.

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O que considerei um “mau perder” quando foi usado o slogan da Worten, hoje considero uma ameaça. Até porque segundo se diz o processo C4R3T0S estava em investigação há vários meses, e ele saberia já da intenção de uma nova busca. Ainda assim, o “worta sempre” deixa muito a desejar.

Além de deixar muito a desejar, mas sobretudo no que toca ao brio profissional e na perseguição a um cidadão, é o facto de que mesmo com uma queixa contra ele, mesmo pedindo um processo-crime contra mim e mesmo dizendo-me para para “voltar sempre”, ter ido novamente à minha residência fazer uma busca quando existiam 70 pessoas altaqmente especializadas para o fazer. Só podia vir ele? Não há conflito de interesses? Ninguém vê aqui um grave conflito de interesses?

Já agora que ficou o link para o comunicado de imprensa, notem que o título diz “pela prática de”. Outros comunicados como este no dia seguinte diz “fortemente indiciado”. Eu, pelos vistos, sou condenado antes de ser julgado. Foi “pela prática de” e nunca “pela presumível prática de”. O reflexo disso fez com que eu, o único arguido conhecido, tivesse uma visibilidade negativa. Julgado pela PJ, portanto.

Já nem sequer vou falar nos pares de estalos que deram a pelo menos um menor de idade, sem a presença do advogado, para obterem o código do telemóvel dele e obterem provas absolutamente circunstanciais contra mim porque isso sim seria descer muito baixo se fosse verdade. O problema é que é verdade. E tudo isto feito alegadamente pela equipa do referido inspector.

O tal inspetor é uma pessoa tão idónea que até anunciou a operação, com uma imagem de caretos, no seu perfil pessoal antes dos comunicados de imprensa. Quando me mostraram isso dias depois, eu fiz as contas e tendo em conta uma ida de Lisboa ao Pinhal Novo, isso foi “anunciado” antes de ir para a minha casa.

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Deve ser tudo coincidência. Não há perseguição alguma… eu estou sempre a imaginar coisas.

Em suma, a PJ é a primeira interessada em perseguir e destruir o Tugaleaks, fruto, em parte, do referido inspetor que chefia a área do cibercrime nesse órgão de polícia criminal.

 

2 – O Ministério Público

Vamos imaginar que eu sou assaltado. Tenho o direito de pedir ao juiz a pena que eu quiser para o meu assaltante? Passa-se o mesmo com o Ministério Público.

O Procurador Pedro Verdelho teve os seus dados expostos no dia 25 de Abril de 2014, fruto de ataque informático à Procuradoria Geral da República. Não tem, por isso, distanciamento suficiente para poder pedir uma medida de coação, que é gravíssima no meu caso, e só no meu caso porque sou a única pessoa que trabalha com Internet (todos os outros, os que trabalham, não o fazem com recurso à Internet).

Ele sabe, e a PGR sabe, que foram embaraçados e humilhados aos olhos da opinião pública. O Tugaleaks deu a notícia, nada mais. Alias, vale a pena citar que “Repórteres sem Fronteiras relembra que a divulgação de actos supostamente ilegais não constitui por si só um delito passível de detenção”.

A falta de distanciamento, aliados ao facto de, como a juíza não percebia absolutamente nada do tema Internet, existir uma certa pressão abstrata sobre quem efetivamente sabia (e, efetivamente, o Procurador percebe), tornam o MP num peso procesual demasiado grande.

 

3 – Comissão da Carteira Profissional de Jornalista

Enquanto os Repórteres sem Fronteiras e outras instituições estrangeiras vieram em minha defesa em poucas horas, a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista e também o Sindicato dos Jornalistas (contra estes nada tenho, mas é importante inclui-los nesta frase) mantiveram-se calados. Isto é fruto da classe de jornalistas que existe atualmente e que, esmagada pela indústria do “agora” e do “momento”, recusam-se a investigar o que estás por trás da operação C4R3T0S porque leva tempo e dinheiro.

Mas o que não se pode admitir é que o Presidente da CCPJ tenha feito, a julgar pelo que está escrito no artigo, falsas e insultuosas declarações nomeadamente aqui quando diz que “Pedro Mourão não revela por que razão havia suspendido a carteira a Rui Cruz, mas refere-se ao seu comportamento como sendo quezilento e um pouco estranho”. A minha carteira encontra-se válida, e estranho é o comportamento da CCPJ que no último ano teve duas queixas na Comissão de Acesso a Documentos Administrativos por recusa na divulgação de dados públicos que eu iria usar em investigação jornalística, faltando à transparência a que uma instituição do estado é obrigada. As queixas podem ser vistas aqui e aqui.

Sobre esta matéria, no mesmo artigo pode ler-se que o presidente da CCPJ não vê com bons olhos os equiparados e que sendo o equiparado mais “conhecido” serei por analogia um alvo a abater. Pena que tenham que recorrer a ilegalidades para o fazer.

Por fim, foi a queixa da CCPJ que motivou em grande parte a minha detenção. A PGR não foi, no entanto, capaz de identificar um IP, uma data ou um método do meu alegado ataque.

Assim, posso apenas concluir que a queixa da CCPJ, que demorou apenas um mês a ser “resolvida” (tempo record!) foi feita com a noção, errada, de que eu os ataquei e que esta entidade não vê com bons olhos os equiparados a jornalistas.

 

 

E agora?

Estou a receber 14EUR por dia do subsídio de desemprego. Na Internet (fora o meu outro trabalho por conta de outrem) ganhava mais do que isso por dia e como disse não estou sequer a contar com o outro trabalho que tinha. Os meus fundos que tinha de reserva estão, a pouco e pouco, a acabar. Já são várias as instituições europeias que apoiam jornalistas a quem pedi ajuda no sentido legal e económico. Algumas, como a European Federation of Journalists, já ajudaram na defesa legal. Outra ajuda, humana, tem sido a do escritório de advogados Jaime Roriz que me defende e que está (e eu também) à espera do recurso sobre a medida de coação. Mas isso ainda demora mais dois meses, e quantos mais meses demorar, mais preocupante se torna a minha situação.

O Tugaleaks vai voltar? Vai. Não sei é quando. Mas que vai voltar não pode haver dúvida alguma.

Nunca fiz ataques informáticos. Estou acusado de fazer ataques informáticos. Mas sem provas de tal facto.

 

Pela verdade da informação.

Rui Cruz
+351 96 827 1502 (provavelmente sob escuta)

PS: e isto tudo num ano de eleições onde o Tugaleaks iria dar a conhecer algumas informações que não estão a ser passadas no mainstream media… mais outra coincidência

— Publicado por Patrícia Morais Cruz