José Balaguer Escrivá foi o 465.º santo canonizado pelo falecido Papa João Paulo II e a vinda para o nosso país da organização que fundou terá sido decidida após conhecer a vidente.

Tudo terá começado com um encontro com Lúcia, a vidente de Fátima, quando esta se encontrava no Convento das Doroteias de Tuy, em Espanha. A antiga pastorinha, diz o site na Internet do Opus Dei, terá conhecido o fundador do Opus Dei, Josemaria Balaguer Escrivá, em 1945. Só que Josemaría Balaguer não tinha com ele o passaporte e era preciso que alguém abrisse as fronteiras ao pai da Obra de Deus (Opus Dei, em latim). A solução terá sido um telefonema da irmã para Portugal e Balaguer conseguiu o visto para entrar no nosso país, visitar Fátima e encontrar-se com altos dignitários da Igreja Católica, incluindo o cardeal Cerejeira.

“S. Josemaria conheceu a Irmã Lúcia em Fevereiro de 1945. Tinha ido a Tuy, em Espanha, encontrar-se com o bispo, o seu amigo D. José López Ortiz. A Irmã Lúcia, vidente de Fátima, encontrava-se então num convento em Tuy. O bispo quis que S. Josemaria a conhecesse. A conversa foi providencial uma vez que a Irmã Lúcia pediu insistentemente ao Fundador que fosse a Portugal, para poder assim apressar os começos do trabalho do Opus Dei em terras portuguesas. A viagem está nos seus planos apostólicos, mas não naquele momento, entre outras coisas porque não tinha passaporte. Mas isso não foi um obstáculo pois, com um telefonema para Lisboa, a Irmã Lúcia obteve para S. Josemaria, e para os que o acompanhavam, a autorização necessária. Assim, a pedido da Irmã Lúcia, a viagem que o fundador e Álvaro del Portillo tinham iniciado no dia 29 de Janeiro em Espanha, conheceria um imprevisto prolongamento em solo português”, lê-se no site do Opus Dei.

No ano seguinte, em Coimbra, a organização lançava os alicerces e abria a primeira casa naquela cidade, baptizada de Montes Claros. Rodeada de um enorme secretismo, só na década de 70 é que Jardim Gonçalves, administrador de um enorme império financeiro privado, deu a cara pela Obra. Ao antigo presidente do BCP, seguiram-se figuras como Adelino Amaro da Costa, um dos fundadores do CDS e uma das vítimas de Camarate (que abandonou em litígio a Obra para se casar) ou João Bosco Mota Amaral, ex-presidente da Assembleia da República. O mesmo fizeram figuras internacionais como Lech Walesa, antigo chefe de Estado da Polónia e ex-dirigente do Solidariedade, movimento sindical apoiado pela banca do Opus Dei, Giulio Andreotti, que foi primeiro-ministro italiano em várias ocasiões, Louis Freeh, antigo director do FBI, Joaquín Navarro Valls, psiquiatra e ex-porta-voz do Vaticano, Jacques Santer, ex-Presidente da Comissão Europeia, o espanhol Gil Robles, presidente do Parlamento Europeu entre 1994 e 1999, e Juan Antonio Samaranch, ex-presidente do Comité Olímpico Internacional.

 

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Pedro Gil, assessor de Imprensa do Opus Dei, nega qualquer elitismo e lembra a presença da Obra em meios menos favorecidos, tendo membros taxistas, cozinheiras ou mulheres-a-dias. Desde o início da implantação do Opus Dei em Portugal que a Obra não tem tido vida fácil nos meios eclesiásticos. Seja pela desconfiança da hierarquia, seja pela dificuldade em fazerem-se aceitar junto da opinião pública e de penetrar em meios tão sensíveis como a Universidade Católica ou a administração de paróquias. Pelo contrário, no Vaticano sobem de dia para dia os “infiltrados” do Opus Dei, lobby que condicionou as movimentações dos cardeais no conclave para a eleição do novo Papa. Hoje, sabe-se que o polaco Karol Wojtyla deve o papado à estratégia conservadora dirigida pelo cardeal austríaco Koening, simpatizante da Obra, suspeitando-se que o mesmo terá acontecido com o actual Papa.

 

 

Quem “apareceu” aos pastorinhos?

Frederico Duarte de Carvalho escreveu o livro “O terceiro Bispo” no ano passado. Este livro, de ficção, tem uma história engraçada, como contou ao Tugaleaks o escritor e jornalista:
A história de que teria sido a Amélia Rey Colaço a actriz que fez de Nossa Senhora na aparição aos pastorinhos foi-me contada em 1998, quando eu estava a fazer uma reportagem em Manteigas. Essa pessoa, que já faleceu, explicou-me que, inicialmente, as aparições tinham sido pensadas para Manteigas, por ser a aldeia mais alta de Portugal. Mas, era também a de acesso mais difícil a futuros peregrinos. Depois, Fátima surgiu como um bom local. E acrescentou ele que a actriz Amélia Rey Colaço é que fizera de Virgem Maria. Não disse muito mais. Anos mais tarde, quando comecei a escrever “O Terceiro Bispo” fui “visitar” essa história e investigar até que ponto fazia sentido. E reparei que, de facto, Amélia Rey Colaço, com apenas 19 anos, estreara-se no teatro em Novembro de 1917, ou seja, um mês após o “milagre do sol”, que foi a 13 de Outubro daquele ano. Durante o período entre Maio e Setembro de 1917, a jovem Amélia esteve a ensaiar o papel de um menina pobre. Ela actuava descalça e foi descalça que Nossa Senhora apareceu aos pastorinhos, conforme vemos hoje na imagem que está na Capelinha das Aparições. No entanto, este não foi o único detalhe que me fez sentir que deveria contar aquele episódio no livro. Descobri depois que Amélia Rey Colaço e o resto da sua família eram amigos do poeta Afonso Lopes Vieira. Este último foi um dos grandes defensores das aparições de Fátima. Era natural de Leiria e, mais tarde, escreveu a letra do chamado “Hino de Fátima”. Deste modo, quando dois factos – a história da Amélia Rey Colaço e depois a ligação ao poeta – coincidem desta forma, vindos de origens diferente, as suspeitas avolumam-se. Não digo que tenho certezas, mas há dúvidas que merecem agora ser investigadas com mais cuidado. Quem sabe se, antes de Fátima cumprir 100 anos não iremos ter mais dados que possam juntar-se aos que “O Terceiro Bispo” já trouxe à luz…”.

Será apenas uma história

Entrevista realizada por Rui Cruz