Recentemente, o Hospital de Vila Franca de Xira classificou como “não urgente” uma situação de uma criança com o ouvido obstruído. Menos de um dia depois, no Hospital Dona Estefânia, detectaram-lhe uma otite.

O caso aconteceu no início deste mês e envolveu uma criança de 4 anos. No dia 1 de Março de 2016 deu entrada uma criança de 4 anos no Hospital de Vila Franca de Xira com dores no ouvido. Vista pela pediatra Dra. Catarina Rubio, esta terá receitado umas gotas para o ouvido. Já para aspirar o ouvido a mãe teria que pedir uma consulta ao médico de família.

Não tendo a situação melhorado, no dia 7 de Março a mãe volta com a criança ao Hospital e é atendida pelo pediatra Dr. Nuno Freitas Nunes que confirmou o diagnóstico da pediatra anterior. No entanto, a criança apresentava sinais de febre (37.8) desvalorizados com o estar “muito calor”. Isto, no mês de Março.

As dores da criança e a preocupação da mãe de nada valeram. Nem o facto de pedir para chamar um otorrino para ver a criança, uma vez que o pediatra passou a informação ao otorrino via telefone que decidiu não ser uma situação urgente sem avaliar a criança presencialmente. A mãe, indignada, apresentou reclamação no livro de reclamações.

Com três respostas “não urgentes” e as dores da criança a aumentarem, a mãe decide ir ao Hospital Dona Estefânia no dia 8 de Março, menos de 24 horas depois da segunda ida ao Hospital de Vila Franca de Xira.

Hospital diferente, problema resolvido

Foram precisos menos de 5 minutos para a pediatra que atendeu a criança no Hospital Dona Estefânia solicitar o transporte urgente da criança para o Hospital de S. José, de ambulância, para uma aspiração do ouvido. Algo que no Hospital de Vila Franca de Xira era não era considerado urgente.

Transportada, tinha um otorrino à sua espera em S. José onde depois do ouvido aspirado se descobriu ainda uma otite. Medicada, a criança foi para casa. O problema ficou resolvido.

Mas durante uma semana a criança teve dores e o ouvido obstruído sem verdadeiramente ter que sofrer por isso. A mãe, indignada, culpa o hospital por falta de zelo no tratamento devido e atempado da sua filha. Será que a preocupação da mãe é justificada?

 

Quanto tempo iria ficar o ouvido obstruído?

O artigo 24.º da Convenção dos Direitos da Criança especifica que “Os Estados Partes reconhecem à criança o direito a gozar do melhor estado de saúde possível e a beneficiar de serviços médicos e de reeducação”.
Tal afirmação permite-nos questionar: Podia a criança deixar de ter a dor – mais ou menos grave – e ouvir convenientemente? Sim, podia.

Mas, se nada fosse feito no Hospital Dona Estefânia, quanto tempo iria a consulta de otorrino demorar e, consequentemente, obstruir o ouvido da criança? A resposta a esta pergunta veio ontem, em resposta à reclamação feita pela mãe, onde o Hospital de Vila Franca de Xira fez a a marcação de uma consulta “urgente” para dia 24. Portanto, a criança podia ficar 23 dias sem ouvir de um ouvido.

Contactado o Hospital de Vila Franca de Xira, este respondeu ao Tugaleaks indicando que “A Observação clínica concluiu que não estavam reunidos sintomas nem critérios clínicos que justificassem a observação urgente por um especialista, pelo que se procedeu dentro da normalidade, com o agendamento de uma consulta de otorrino posterior. Os profissionais agiram corretamente, dentro dos procedimentos definidos, não descurando qualquer sintoma.”

Um dia depois, o Hospital Dona Estefânia discordou destas sintomas reunidos e detectou uma otite.

Este não é caso único, que mostra um claro desfasamento de tratamento em vários Hospitais nos arredores de Lisboa, levando os utentes do Serviço Nacional de Saúde a “entupir” os Hospitais da capital em busca de melhor tratamento médico.

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Foto: Portal da Queixa