GNR demora 7 horas a negociar com homem barricado com granadas e arma de fogo num restaurante em Pinhal Novo mesmo este tendo dito que preferia morrer a entregar-se.
As notícias eram escassas em informação. Falavam em engenhos explosivos e não indicavam quais, falavam em granadas sem indicar se eram defensivas ou ofensivas. Ainda hoje não se conhecem estes dados.
Numa entrevista efetuada na TVI, o Tenente Coronel Jorge Goulão, informou que “tentou tudo”. Mas será que tentou?
Recorremos então a um antigo membro de uma força militarizada portuguesa e com vasta experiência e treino para cenários de guerra, que nos informou um pouco dos contornos que uma operação destas envolve. Em primeiro lugar, afirmou que bastava “uma hora no máximo” para obter uma “vantagem táctica superior” e “organizar, com armas letais ou não letais, a rendição imediata do sujeito” porque “havia um militar em perigo de vida e também a possibilidade do uso de engenhos explosivos”.
“Os escudos que a COE [Companhia de Operações Especiais] da GNR usa actualmente dariam uma boa protecção” no que diz respeito à entrada dos agentes no restaurante.
Outro pormenor importante é que existem “seis janelas com possibilidade de entrada” além da porta do restaurante. A nossa fonte afirma por isso que “com os meios que a COE tem, só não se proporcionou a entrada no restaurante por um de dois motivos: houve medo ou não houve autorização”.
Um dos exemplos seria “o uso de fita explosiva simultaneamente nas várias janelas, com a entrada imediata do dispositivo da COE” porque, explica a fonte, “ninguém consegue estar de olho em sete entradas ao mesmo tempo” e “havia o elemento surpresa [do lado da GNR]”.
Imagem Público – GNR controlava acesos ao local
Não podendo o Tugaleaks questionar a GNR sobre o alegado medo que o responsável da operação táctico policial pudesse ter, contactámos o Ministério da Administração Interna. Fonte deste Ministério respondeu por telefone que “a GNR tem autoridade para avançar nestas operações”.
Por outro lado, em relação às questões de foro técnico colocadas ao Gabinete de Imprensa da GNR, fomos apenas informados que “o caso em referência encontra-se a ser investigado pela Polícia Judiciária, não cabendo por isso à Guarda Nacional Republicana responder as questões formuladas“.
Para termos algum termo de comparação, decidimos efectuar uma das várias questões técnica efectuadas à GNR mas desta vez ao Exército. A resposta, bastante aberta e informativa, chegou através do Tenente Coronel Jorge Pedro, Chefe das Relações Públicas e porta-voz do Exército, informando que “o Exército Português tem vários dispositivos tipo câmara térmica, normalmente com mira, que podem ser usados/acoplados tanto em armamento individual tipo espingarda como em sistemas de armas como por exemplo o Carro de Combate Leopard2A6“.
As sete engradas no restaurante e a fita explosiva
usada ne GNR apenas numa dessas entradas
A importância da mira térmica
A nossa fonte afirmou como exemplo que, tendo sido usadas “fitas explosivas” e “miras térmicas, com ou sem objectivo de a disparar”, podia-se saber se o militar estava vivo, uma vez que o corpo demora cerca de três horas a perder calor. A falta deste meio à disposição da GNR “é lamentável”.
O Tugaleaks teve acesso a algumas informações da autopsia e sabe que o militar teve morte imediata e que foi baleado perto do sobrolho.
“É uma palhaçada”, diz a nossa fonte que afirma que era “mais do que possível saber-se do falecimento do nosso camarada se houvessem equipamentos como deviam haver” e “agir de acordo com a nova informação”.
Feridos sem comunicar com a família
Existiram feridos, entre eles militares da GNR. Um dos militares foi o próprio comandante do Posto Territorial do Pinhal Novo, Cláudio Almeida.
Dos feridos, transportados para o Hospital de Setúbal, alguns ficaram cerca de cinco horas sem comunicar com a família. Temos informação de que foi com a ajuda dos camaradas da guarda, a título particular, que alguns tiveram acesso a um telemóvel e uma muda de roupa.
Militar e Canídeo podem vir a ser condecorados
O Tugaleaks soube, em exclusivo, que o canídeo K9-Barros (tratador José Trindade) e o Agente Chainho, do Posto Territorial do Pinhal Novo, podem vir a ser condecorados pelo Comando Geral da GNR.
A Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda afirmou que faltam cerca de 5 mil militares na GNR. José Alho, presidente da ASPIG, afirmou que “quem padece são sempre os patrulheiros da guarda. São sempre os mal-amados e são sempre os que morrem, porque são os que vão ao primeiro contacto. Quando há alteração à ordem pública, não têm apoio porque há falta de efectivos na actividade operacional, que é qualquer coisa do outro mundo”.
A ASPIG está também a prestar apoio à família do agente Chainho devido á “burocracia” no apoio às famílias das vítimas. A GNR não tem actualmente um departamento ou pessoal dedicado a esta tarefa.