Existem assim tantas diferenças de género que impossibilitam o acesso livre ao vasto leque de carreiras existente, seja a homens ou mulheres? Existem carreiras destinadas a homens e outras a mulheres?
Apesar das grandes mudanças ocorridas na última década no que respeita à igualdade de género, hoje em dia ainda podemos notar algumas discrepâncias.
É uma questão sobretudo cultural, sendo que de país para país, existem algumas diferenças. A nossa sociedade continua a rotular, ainda que de forma mais ténue, “trabalhos e carreiras de ou para homens” e “trabalhos e carreiras de ou para mulheres”. E naturalmente, as empresas acabam por seguir a “tendência”, chamemos-lhe assim. E este fator, entre muitos outros, não ajuda na diminuição da taxa de desemprego.
Nas empresas mais jovens, as diferenças de género acabam por não ganhar força. As pessoas estão mais conscientes e menos predispostas a valorizar qualquer tipo de estereótipo ou discriminação. Já noutras, com processos de cargos e salários mal definidos ou gestão mais imatura ou obsoleta, o salário de cada colaborador é decidido no momento da contratação. Nessas, não existe uma regra coerente que garanta a equiparação dos salários de profissionais com o mesmo cargo, sejam eles homens ou mulheres. Este é um ponto fundamental, atribuir salário por cargo e desempenho e não por diferenças de género.
Um estudo levado a cabo pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, apresentado no passado mês de Maio, refere que “as diferenças salariais entre homens e mulheres podem chegar aos 600 euros brutos mensais em algumas profissões.” A investigação compara Portugal com os restantes países da União Europeia, desde o início do século XXI até 2017.
Ao longo da história, mais precisamente, ao longo de 27 governos democráticos, temos vindo a verificar que, efetivamente, existem mais homens em cargos de liderança que mulheres. 154 mulheres ocuparam cargos no Governo, em comparação com 1.609 homens.
Sim, existem ainda hoje algumas disparidades
Não só as mulheres sentem alguma dificuldade em aceder a alguns cargos que a sociedade carimba como sendo exclusivos de homens, como os homens sentem exatamente o mesmo quando tentam candidatar-se a cargos supostamente “femininos”.
Hoje em dia, continua a ser mais comum e facilmente aceite para nós que um empregado de limpeza seja mulher e não homem, ou que alguém que conduz um camião que atravessa fronteiras seja homem e não mulher. Existem claras diferenças físicas e biológicas entre homens e mulheres que a ciência comprova, mas a ciência também nos diz que todos nós, independentemente do sexo ou raça, somos absolutamente diferentes.
Cada indivíduo é único, com experiências, educação, valores, crenças e costumes diferentes. Logo, a aptidão que alguém tem para um determinado trabalho tem muito mais a ver com toda essa bagagem do que com o que o nosso código genético tem gravado.
Será assim? A verdade é que ainda hoje não podemos escrever com segurança a percentagem de importância e impacto que as experiências e o lado biológico têm nas nossas vidas. Existem diferenças entre géneros tal como existem diferenças culturais e outras. E a nossa cultura, a nossa sociedade, salvo algumas exceções, não consegue transformar-se mediante uma só decisão governamental imposta.
É necessário que a mesma vá mudando passo a passo para que a grande mudança ocorra. E é o que tem acontecido. A prova disso é que são cada vez menos as empresas que fazem distinção entre saias e calças na hora de atribuir salários, e os estereótipos começam a perder força de ano para ano, semana para semana, dia para dia.
Existem inúmeras mulheres em cargos supostamente masculinos, ou onde estaríamos mais habituados a ver homens em vez de mulheres, bem como existem mais mulheres em cargos de liderança.
Ruth Porat, ex CFO e Vice-Presidente executivo de Morgan Stanley por 5 anos, é executiva financeira e trabalha atualmente como diretora financeira da Alphabeth Inc., bem como é subsidiária Google. Mary Barra, trabalhou durante 33 anos na General Motors antes de ser tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de CEO da principal montadora americana.
Sheryl Sandberg, uma das inspirações quando o assunto é a liderança feminina, é a diretora de operações do Facebook desde 2008, tendo lançado um livro sobre as desigualdades de género. “Aprendi a força que tenho quando não há escolha e a falta de mulheres em cargos de liderança (que deu muito que falar nos EUA). Fátima Moreira de Melo, é ex-jogadora de hóquei, tendo conquistando três medalhas olímpicas e membro da PokerStars SportsStars, tornando-se uma presença habitual nos eventos de poker europeus e internacionais.
E estes são apenas alguns de muitos exemplos de sucesso que mostram que o género ou sexo são apenas características ou pormenores.
Ainda que muito menos debatido existem também, hoje em dia, muitos mais homens esteticistas, cabeleireiros, secretários. Muitos mais homens a liderar cargos que há alguns anos eram tidos como exclusivos das mulheres. A sociedade começa a tomar outra consciência e já não é o género que dita o bom profissionalismo e o sucesso de alguém.