Ao serviço da PT e contratados pela EGOR desde 2010, estes trabalhadores têm ameaças de despedimento e horários forçados. Trabalham num callcenter do Porto e pedem melhores condições de trabalho.
O Tugaleaks contactou a EGOR a solicitar esclarecimentos e medidas que irão tomar para garantir o cumprimento de avisos legais de alteração de folgas e do cumprimento do regime de horas extra.
Segue a queixa enviada ao Tugaleaks, na íntegra:
Somos um grupo de trabalhadores insatisfeitos da EGOR – AUTSOURCE, e exercemos funções no call center da PT Comunicações, em Tenente Valadim, no Porto.
Decidimos que, desde que a EGOR entrou, em 2010, até à data, seria tempo suficiente de silêncio e, resolvemos denunciar a precariedade vivida naquele centro. Vivemos ao abrigo de duas empresas que, se houver dinheiro a entrar, estão pouco preocupados com a (in)satisfação dos funcionários. É de levar em conta que somos nós “a voz” da empresa e, se nos sentirmos insatisfeitos, o trabalho não vai ser tão produtivo como seria se fossemos tratados com respeito.
A nossa história começa em inícios de 2012, quando a necessidade de despedir falou mais alto. Isto porque a empresa trazia um longo e vasto historial em formações e, esqueceu-se (ou então o dinheiro falou mais alto) que, é bom fazer formações, se tiverem espaço para todos, o que, se veio a comprovar que não tinham.
A empresa, que era representada por um coordenador, cuja personalidade não é a mais adequada para trabalhar num call center, onde é exigida capacidade de interação social e respeito pelo próximo (características estas que lhe faltam), começou a chamar os assistentes para redução de carga horária e até mesmo para rescisão. Existem contratos de trabalho onde as reduções de carga horária são feitas apenas com mútuo acordo e, os assistentes começaram a recusar. Esse senhor, representando a empresa, que trabalhava apenas em função das ameaças, nessas situações, e a quem recusasse redução de carga horária, via o seu posto de trabalho ser alterado para Santo Tirso, ou então a ter o seu horário reduzido e folgas alteradas. Chegou a questionar uma assistente, que entretanto já foi despedida se teria outro trabalho, ao qual esta respondeu que sim, acabando por dizer o horário que fazia nesse outro emprego. Esse senhor, porque se julga bastante inteligente, abusando do poder que lhe foi conferido, chegou inclusive a ameaça-la que o seu horário de trabalho naquele centro ia ser alterado, para que não pudesse continuar com os dois trabalhos, obrigando-a assim a ter de se despedir. A essa mesma assistente chegou a dizer-lhe que ela não servia nem para lavar escadas.
Depois de toda a história dos despedimentos (mais de 100 pessoas despedidas) a empresa viu-se com falta de assistentes. Começou então a exigir horas extra. Ora, todos nós necessitamos de trabalhar e, obviamente, um dinheiro a mais faz jeito a toda a gente mas, por experiência própria afirmamos que, o trabalho num call center é desgastante. A empresa surgiu com a ideia de criar “convocatórias”. Isto seria uma forma simpática e nos dizer que teríamos de trabalhar mais num dia:
“Olá, só para te dizer que foste convocado para vires trabalhar no Sábado. O teu horário é de 8H? Pronto, nesse dia fazes 10H!”
Se o assistente não pudesse? Dependia do assistente, mas, normalmente, eram ameaçados com processos disciplinares. É normal que, no próprio dia, ao serem exigidas horas extras, um assistente se recuse. Já ouviram falar de avisos prévios de 24 ou 48 horas? Pelo menos, para que o assistente possa resolver a sua vida pessoal.
Não eram só nessas situações que se ouvia as duas palavrinhas: PROCESSOS DISCIPLINARES! Num dia, chegaram a pedir redução de carga horária a muitos assistentes, afirmando que havia poucas chamadas e, no mesmo dia também, pediram a alguns assistentes que viessem fazer uma formação complementar em horário pós-laboral, ameaçando mesmo com processos disciplinares a quem não comparecesse à formação, pois, segundo eles, havia muitas chamadas e não podiam prescindir de nenhum assistente no atendimento. Somos só nós a pensar que há algo que não está bem?
Recentemente, as opções que dão aos assistentes que querem despedir são: ou os assistentes entregam a carta de rescisão de livre vontade ou então, aguardarão e despedirão esses mesmos assistentes em Agosto, pois com a alteração do código de trabalho com a lei da inadaptabilidade passar a ser considerada justa causa, enviam eles a carta de rescisão deixando assistentes que lá exercem funções, antes mesmo de a EGOR ter iniciado o seu contrato com a PT Comunicações, ou seja, à mais de 1 ano, sem direitos. Isto é ou não é anedótico? Assistentes que estão naquele centro à mais tempo que a própria EGOR, ouvem afirmações destas? Como é que um assistente, ao fim de 3 ou 4 anos de trabalho, deixa de ter perfil para lá trabalhar? Se em JUNHO ou JULHO, sabem que querem despedir, para quê aguardar até AGOSTO? Óbvio, para não pagarem indemnizações.
Onde anda a PT Comunicações no meio disto tudo? Não sabem? Onde está o manifesto que enviamos, após termos aderido à greve no dia 22 de Março? Acham que, simplesmente, não quisemos trabalhar? Acham que, estarmos plantados, um dia inteiro à frente de um edifício foi bom para nós? Perdemos um dia de trabalho e continuamos a ser tratados desta forma. Se estas situações tivessem acontecido uma única vez, acham que seriamos mais de 80 trabalhadores a aderir à greve? Claro, os grevistas são de facto uma “cambada” de preguiçosos que aproveitam qualquer oportunidade para não trabalhar. Desta forma, são todos meninos ricos que não precisam assim tanto de ganhar dinheiro.
Verdade é que, depois da greve, o ambiente não mudou, a insatisfação continua. As empresas não podem continuar a abusar do poder que lhes é conferido, nem tratar os funcionários como marionetas, obrigando, através de ameaças e pressões, que estes façam o que é mais conveniente à empresa.
Continuamos com os despedimentos, e com a questão das formações. Actualmente estão 3 formações a decorrer, vão entrar mais 3 em Agosto. Novos assistentes com cláusulas contratuais que são, lamentavelmente, surreais: pessoas contratadas e no 1º mês é-lhes ministrada uma formação (como aliás, aconteceu com todos nós), no entanto, após término da formação teórica, colocam os novos assistentes no atendimento, exactamente como estamos nós, assistentes seniores, e, continuam a pagar-lhes como se estivessem em formação, ou seja, 7.50€/dia. É de levar em conta que um assistente sénior ganha perto de 25€/dia; entretanto, vêm com contratos renovados semanalmente e vêm para trabalhar consoante as necessidades, sendo que hoje um assistente vai trabalhar 8 horas e, amanhã, poderá apenas trabalhar 4 horas. Para além de tudo isto, a empresa pode “suspender” estes assistentes, no período máximo até dois meses, enviando o assistente para casa, deixando-o assim sem rendimentos, obviamente, podendo voltar a chamá-los, isto se as necessidades de serviço assim o justificarem. Tudo isto, porque a crise também chegou às grandes empresas, e o povinho é que sofre. Ninguém pode dizer que não trabalhamos, e o nosso emprego não tem reconhecimento. Que o digam todos os operadores de call center que ouvem um AHHH de indiferença quando respondem que trabalham no call center de qualquer empresa. Somos insultados de tudo, tratados muitas vezes pior do que animais e, quando não é o cliente a fazê-lo, é a própria empresa para quem exercemos funções.
Depois de tudo isto, ainda temos as avaliações. Para poder melhorar o atendimento, a PT Comunicações (a questão das avaliações foi lançada pela PTC e não pela EGOR) lançou uma nova forma de nos avaliar. Para poder ser mais simples, passo a exemplificar: atendo uma chamada, cuja situação não é do meu âmbito, naquela situação, o procedimento (também definido pela PTC) diz-me que, nesse tipo de assuntos, a chamada tem de ser transferida, logo, é o que faço. No final do mês, são contabilizadas essas chamadas e, é feita uma média das chamadas atendidas com as chamadas transferidas e se, essa média estiver acima do que o que a PTC diz ser o limite máximo, somos penalizados na nota final. O mesmo acontece com as situações que necessitamos de enviar para análise do nosso BackOffice, deixando o cliente a aguardar resposta: quantas mais enviar para serem analisadas, mais me prejudicarei. Nem está em causa tentar não o fazer, porque se não seguirmos o procedimento, somos penalizados novamente.
Há também outro ponto da avaliação que suscita várias dúvidas: chamamos-lhe a “voz do cliente”. Alguns clientes com quem falamos, recebem contactos automáticos para nos avaliar, o que é aceitável. O que não é aceitável é o facto de não termos acesso a cada uma das avaliações, não sabendo se aquilo que lançam nas avaliações é real. Mais um item que, de forma alguma, é controlado por nós.
Para finalizar, há a questão das vendas. Trabalhamos numa linha de apoio ao cliente e, impingiram-nos a parte comercial. Sempre nos disseram que não seriamos prejudicados se não vendêssemos, teríamos apenas de abordar. Contudo e, quando foram lançados os novos critérios de avaliação, foi-nos dado um objectivo de vendas que, caso não seja cumprido, prejudica a nossa avaliação mensal, reduzindo-a, tornando-nos assim um “alvo a abater”.
Tudo isto para mostrar que, com frequência, perdemos o controlo sobre as nossas avaliações, deixando-os à vontade para que a rescisão seja apresentada, apenas com base na redução de produtividade e não cumprimento de objectivos. Especialmente agora, a partir de 26 de Agosto de 2012, com a entrada das alterações ao código de trabalho.
A própria representante legal da EGOR, Dra. Fátima Machado, ao ser confrontada com este tipo de situações, alegou “ser alheia” e “desconhecer que a EGOR não faz cumprir a lei e que, desconhece também, que os coordenadores não seguem as normas da empresa”, quando, e após o dia 22 de Março de 2012, e de nós termos aderido à greve, enviamos um comunicado para a PT Comunicações e para a EGOR sobre os motivos que nos levaram a aderir a esta luta.
Se essa senhora quiser, estamos de facto disponíveis para o voltar a enviar. Desta vez, pedimos que leia o email, antes de o eliminar. É de frisar que, esse MANIFESTO foi enviado para ambas as empresas e não se viu qualquer resposta de nenhuma delas. Nessa altura, tivemos a colaboração do Diário de Noticias, que se disponibilizou a mostrar a nossa luta e que quis mesmo falar com o coordenador, que não quis prestar declarações. Seria de esperar, julgamos nós.
Para continuarmos a contar o que se passa, seria necessária muita tinta. A nossa conclusão? Desde que continue a entrar dinheiro, pouco importa os funcionários que são despedidos, os que são contratados em situações precárias, pouca interessa o melhoramento das condições laborais e a satisfação dos assistentes. Eles que reclamem, há outros que vêm ocupar o lugar deles, e depois desses vão haver muitos mais…
Outros documentos enviados para a EGOR e PT para download