Numa altura em que a maioria dos comandos da GNR se vêm envolvidos em polémica devido ao limite de horários por parte dos militares, em Carcavelos o comandante afirmou, em reunião esta terça-feira, palavras que ofenderam alguns militares.

O Comandante João Garcia, do Destacamento de Trânsito de Carcavelos, informou os militares, de forma aparentemente prepotente que “eu estou cagando para as vossas conversas”, quando os militares tentaram impedir que se fossem fazer mais horas do que aquelas legalmente permitidas na nova portaria da GNR, aprovada recentemente pelo Governo. A portaria dita que o horário da GNR deve ser até 40 horas, mas uma norma interna da GNR faz com que os militares trabalhem mais de 40 horas.

Na reunião, esta terça-feira, o Comandante disse ainda outras frases, que deixaram vários militares incomodados, de acordo com várias contes que confirmaram ao Tugaleaks o seu descontentamento.

Desde o “eu estou cagando para isso” referindo-se a qualquer coisa que os militares dissessem, passando por “eu estou-me cagando para os outros comandantes de destacamento” referindo-se aos seus colegas oficiais, continuando com “é assim como eu quero e ponto” tentando elevar o seu sentimento de querer estar certo até ao “eu estou aqui para mandar“. Por fim, ainda teve tempo de dizer que se houvesse algum problema que “podem ir falar com o tuga coiso”, referindo-se ao Tugaleaks, que tem publicado várias informações sobre o destacamento nos últimos anos.

A outro militar, chegou mesmo a dizer que “estou-me a cagar para o trânsito, estou aqui só por imposição“.

Capitão “perde” quase metade dos homens em três dias

Depois da reunião terça-feira, vários foram os militares que pediram uma audiência com o Comandante Territorial por estarem insatisfeitos com o Capitão do Destacamento, João Pedro Augusto da Costa Silva Garcia. De acordo com fontes do Tugaleaks, cerca de 27 militares do destacamento fizeram requerimento de pedido de audiência com Comandante Territorial para protestar formalmente contra a implementação do novo horário. Outros tantos, em número semelhante, apresentaram baixa médica ou outro motivo para evitar ir para a patrulha. O Tugaleaks sabe que, a confirmarem-se todas as baixas, durante todo o fim de semana poderão não existir patrulhas na área responsável pelo destacamento de trânsito.

Aos que pediram a audiência, chegou a chama-los de “parvos” por estarem a fazer tal pedido.

 

Contactada a GNR, não obtivemos qualquer resposta do Gabinete de Imprensa, liderado pelo Major Marco Cruz.

César Nogueira, da Associação dos Profissionais da Guarda, afirmou ao Tugaleaks que “[l]ogicamente que consideramos reprovável e condenável. A ser verdade, o Comando Territorial competente deve instaurar um processo disciplinar. Compete a um comandante ajudar os seus subordinamos a desempenhar cabalmente as suas funções e tratá-los com respeito, pois comandar não é mandar, embora por vezes confundam uma coisa com a outra. Comandar não é para todos, porque se fosse qualquer um comandava. E normalmente quando não se sabe comandar utiliza-se ‘o quero, posso e mando’.”

Encobre militar que se tentou suicidar

Na notícia publicada no passado mês de Setembro, que dava conta de que um militar terá tentado o suicídio pelo menos cinco vezes, o Tugaleaks sabe que o Comandante Garcia tinha tido conhecimento destas tentativas mas que não tinha dado conhecimento ao Ministério Público, facto esse que era seu dever. Fontes informaram o Tugaleaks que depois da publicação da notícia, o Capitão terá sido contactado internamente para perceber o que tinha acontecido e o motivo pelo qual não reportou o militar ao seu serviço.

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— actualizado às 23:23 com as declarações de César Nogueira