O Carnaval de Torres Vedras é habitualmente um ponto de diversão bastante conhecido em Portugal. Mas quem não se divertiu nos últimos dias foi uma rádio local, ignorada pela Promotorres.
Rádio oficial há mais de 20 anos, a RadiOeste, a operar na frequência 97.8Fm na zona de Torres Vedras e arredores, foi este ano surpreendida pela “nova” rádio oficial, a Rádio Comercial.
A decisão foi comunicada de forma oficiosa pela Promotorres, uma empresa municipal com capitais públicos pagos pelos contribuintes, numa atitude desrespeitadora de acordos já firmados.
Num comunicado publicado a 1 de Fevereiro, a RádiOeste indicou que “fomos informados de que a rádio oficial seria a Rádio Comercial e que a Radioeste ainda tinha muita sorte em fazer algum trabalho no Carnaval de Torres”.
A viralidade do comunicado atravessou as fronteiras locais, sem antes merecer um comentário do CDS/PP local, a lamentar a situação. Apelidada de uma “censura” por outros meios de comunicação social locais, a notícia espalhou-se além da região de Torres Vedras rapidamente.
Quando, no dia seguinte, a Rádio Comercial tomou conhecimento de que já existia outra rádio oficial, no comunicado deixou bem claro que não sabiam que já existia outra rádio “oficial” do Carnaval de Torres.
Não é de estranhar porque no site do Carnaval de Torres, a lista de “apoios” no final da página a RadiOeste não aparece. Nem este ano, nem nos anos anteriores, nomeadamente 2015, 2014 (neste ano chama-se mesmo “apoio à divulgação”, e nos anos anteriores.
A rádio oficial que nunca foi oficializada
Estamos perante uma empresa municipal, de capitais públicos que durante anos ignorou um meio de comunicação social local que, sendo “oficial”, nunca foi oficializada.
Perante toda a situação e sem rádio oficial, no dia de ontem foram tidas várias reuniões no sentido de apaziguar a situação.
O Tugaleaks sabe que foi a Promotorres a iniciar contacto com a Rádio Comercial tendo já uma rádio local como oficial. Mas, em declarações ao nosso órgão de comunicação social, fonte da organização garantiu que “nunca a Promotorres substituiu, muito menos foi intenção, a RadiOeste pela rádio Comercial”, posição essa que falha na prova dos factos à vista.
É normal ignorarem os mais pequenos
O exemplo desta empresa pública remete-se ao usual em Portugal: os mais pequenos são sempre aqueles mais afectados.
Para Pedro Jerónimo, professor universitário que investiga sobre os media e o jornalismo de proximidade, “esta situação era perfeitamente evitável. Antes mesmo de serem assumidas, já pareciam notórias as ‘falhas de comunicação entre a Promotorres EM e a RadiOeste’. Se os primeiros assumiram um compromisso com uma rádio nacional e já havia um acordo com a local, porque não a colocaram ao corrente? Se a RadiOeste diz que soube ‘pelas redes sociais’, é porque esse contacto não terá existido.”
Embora seja uma atitude “lamentável e reprovável”, “este tipo de posição em relação aos media de proximidade” é normal. O professor afirma mesmo que “a generalidade deles ainda é vista como amadora e praticante de um ‘jornalismo de segunda’, o que não corresponde à verdade. Se antes era mais assim, actualmente na maioria desses meios podemos encontrar mais profissionais com formação e quantas vezes não são as suas estórias que alimentam os media nacionais e os programas televisivos de entretenimento”.
A atitude da rádio comercial foi a mais aplaudida no meio da inextricável atitude da Promotorres, sendo esta considerada um “raro e desejável gesto de camaradagem” por Pedro Jerónimo.