O professor Hamid Shahbazkia.é acusado de ter criado tachos para “família” entrarem em Erasmus e de ameaças aos alunos. O reitor nada fez durante meses.

O caso é já falado um pouco por toda a Universidade do Algarve agora que se descobrem mais factos. A Universidade até agora não fez nada, e todas as pessoas, até o reitor, têm conhecimento da situação.

 

Universidade do Algarve: professor cria “tacho” para Erasmus Mundus e ameaça alunos

Foto: cursos.ualg.pt

 

Fernando Lobo é Professor Associado na Universidade do Algarve e trabalha no Departamento de Engenharia Electrónica e Informática. É responsável por colocar a nu várias situações em que o professor Hamid Shahbazkia se coloca numa posição pouco digna para esse nome. Em e-mails “leakados”, existem relatos de ameaças a alunos estrangeiros e de famílias inteiras irem “parar” ao programa Erasmus Mundus sem as notas terem ainda saído. Quando os alunos se tornam problemáticos, a ameaça ocorre segundo os e-mails, com relatos como “He refused to sign a declaration of the work delivery and threatened me that he can make trouble for catching the Airplane.”
Numa carta aberta enviada ao Ministro Nuno Crato, depois da carta para o Reitor ter sido ignorada, Fernando Lobo afirma que desde final de Novembro – data em que apresentou a carta ao Reitor da Universidade do Algarve – “ nem o Reitor nem ninguém na Reitoria pediu para falar comigo ou me deu uma resposta”. Perante isso, fez também uma queixa na Inspecção-Geral da Educação e Ciência e que culminou com a carta ao Ministro há poucos dias.

A mais flagrante acusação feita, diz respeito ao modo de selecção das pessoas, que neste caso é a “selecção por tachos”, à boa moda da política em Portugal:

 

A principal tarefa do Prof. Hamid Shahbazkia como coordenador do programa Erasmus Mundus para o lote Irão–Iraque–Yemen, é seleccionar os candidatos que vˆem para c´a, e j´a se percebeu como é que ele faz a selecçao. Há centenas de pessoas que se candidatam ao programa, e grande parte dos que são seleccionados para a Universidade do Algarve são familiares entre si: Faroq Al-tam, Eman
Al-Hawri (mulher de Faroq Al-tam), Ryad Al-tam (irmão de Faroq Al-tam). Faroq Al-tam foi aluno de mestrado orientado pelo Prof. Hamid Shahbazkia e agora é aluno de doutoramento (sem bolsa) orientado também pelo Prof. Hamid Shahbazkia (2 bolsas dão para 3). M-Hossein Moeinzadeh, Sara Sharifian-R (mulher de M-Hossein Moeinzadeh), ambos com bolsas de doutoramento Erasmus Mundus sob supervisão do Prof. Hamid Shahbazkia. Asal Kiazadeh, ### (irmã de ####); Ghazal Ebadi, Sina Ebadi (irmão de Ghazal Ebadi); Abdulrahman Rohaim, mulher de Abdulrahman Rohaim; Pergunto se “ser familiar de” é um critério para a selecção de candidatos?

 

Podia ser apenas uma coincidência. Foi nesse sentido que o Tugaleaks questionou a Universidade do Algarve sexta-feira de madrugada para a publicação de um artigo no sábado passado, que não chegou a ser publicado naquele dia. Entretanto e no mesmo dia do nosso contacto, surge um documento em PDF distribuído pela Universidade a que o Tugaleaks teve acesso. Nesse comunicado a Universidade informa que “cumpre afirmar que a Dinâmica do consórcio de universidades deste Projeto e as regras Impostas pela Comissão Europeia impedem qualquer iniciativa menos clara na adoção deste procedimento e tornam impossível qualquer Adulteração das mesmas.” Informa ainda “que nesta mesma data foi lançado um procedimento por averiguação destinado a resolver, no plano académico, a questão ora levantada”. A carta vem assinada pelo Reitor, que embora não tenha ligado às denúncias apresentadas, resolveu de forma bastante oportuna emitir um comunicado horas depois das questões levantadas pelo Tugaleaks.

 

Downlaod do PDF aqui

 

O Tugaleaks entrou também em contacto com Fernando Lobo, que nos indicou, sobre a questão do “procedimento” levantado, que “Em lado nenhum é referido o meu nome, nem a carta aberta que escrevi. Por isso, não posso concluir que seja destinado a mim”.

 

Ex-alunos descontentes com professor

Também os alunos, os pilares fundamentais de qualquer instituição de ensino, se mostram descontentes com a situação.

Conseguimos chegar à fala com um aluno do professor Hamid Shahbazkia que confidencia algumas informações:

A verdade é que, em ambas as cadeiras que frequentei, nunca gostei do modo de leccionar do senhor: passávamos as aulas a copiar do quadro, o que para mim, tornava a matéria massuda e incompreensível (nunca compreendi o valor didáctico de copiar manuais); os exemplos eram raros; total ausência de material escrito, desde apontamentos (claro que tínhamos o livro, em pdf pelo menos) até mesmo aos enunciados dos trabalhos práticos; para não falar nas regras de avaliação em que os trabalhos práticos ( que exigem muito tempo) só contam a partir do momento em que já tens nota para ser aprovado à cadeira…
Sucessivos atrasos do docente às aulas; fazer os enunciados dos exames à hora em que o exame devia começar; e corrigir os exames de época normal já na sala onde está a decorrer o exame de época especial, não ajuda.
E o episódio das notas, que até então eu pensava que só acontecia aos outros, obrigou-me a perder mais um ano de faculdade

 

 

O professor continua ao serviço da faculdade. Os alunos continuam ameaçados. A educação em Portugal continua a ser denegrida. O Ministro continua calado e o Reitor, apenas sexta-feira passada, decidiu investigar não a denúncia, mas o denunciante.

 

Carta aberta ao Ministro Nuno Crato

Aceder aos e-mails aqui

Nota editorial:  Os nomes com “####” foram removidos a pedido dos envolvidos
Data: 2017-10-03


Publicação do direito de resposta enviado a 23 de Abril de 2018:

Exmo. Senhor
Diretor do Tugaleaks
Dr. Rui Diogo Morais da Cruz

Ao abrigo do disposto nos artigos 24.º e seguintes da Lei n.º 2/99 de 13.01 (Lei de Imprensa) e alterações subsequentes, a UAlg pretende exercer o seu direito de resposta à notícia veiculada em 13.03.2013, o que faz nos termos e com os seguintes fundamentos:

Há sensivelmente cinco anos foi veiculada notícia através do website do órgão de comunicação social Tugaleaks, a dar conta de alegadas irregularidades no processo de seleção de alunos oriundos do Irão, Iraque e Iémen, no âmbito do Programa Erasmus Mundus, para a frequência de ciclo de estudos de doutoramento na Universidade do Algarve, bem como de um suposto descontentamento por parte de ex-alunos desta Universidade, sobre a forma como um docente lecionava as aulas.

Os factos foram denunciados ao Tugaleaks pelo Prof. Doutor Fernando Lobo, que não se inibiu de expor publicamente os nomes dos candidatos que integraram aquele programa, referindo-se ainda ao respetivo coordenador do programa, igualmente docente desta digna instituição de ensino superior pública, Prof. Doutor Hamid Shahbazkia.

A mencionada notícia ainda se encontra disponível no endereço https://tugaleaks.com/universidade-algarve-professor-hamid.html

Na sequência dos factos denunciados a V. Exas. bem como ao então Ministro da Educação e Ciência, Doutor Nuno Crato, pelo Prof. Doutor F. Lobo, no âmbito da competência de superintendência e tutela que o Ministro exerce sobre as instituições de ensino superior, a Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) ordenou à Universidade do Algarve que se pronunciasse sobre os factos denunciados e informasse sobre as diligências promovidas.

Em 06.06.2013, o Reitor da Universidade do Algarve comunicou ao Inspetor-Geral da Educação e Ciência que “(…) determinou a abertura de um processo de averiguações ao comportamento do Professor Hamid Reza Shahbazkia” e solicitou “(…) ao Professor Fernando Lobo a retirada, da sua página pessoal, de toda a informação relacionada com estes acontecimentos, de modo a permitir que as averiguações decorram com a máxima tranquilidade (…)”.

Durante o decurso do processo disciplinar, que decorreu com toda a normalidade que seria de esperar, esta instituição recebeu a visita da Inspetora designada pela IGEC, incumbida de averiguar as alegadas irregularidades denunciadas pelo Prof. Doutor F. Lobo.

Nem das averiguações levadas a cabo pela IGEC, nem do processo disciplinar que decorreu internamente, foi apurada a prática dos factos denunciados.

Em 05.04.2013, o instrutor nomeado para a condução do processo disciplinar instaurado em face do Prof. Doutor H. Shahbazkia propôs o arquivamento dos autos, com fundamento na prescrição do direito de instauração do procedimento disciplinar.

Em 18.10.2017, à solicitação do Prof. Doutor F. Lobo, foi remetida cópia de todo o processo.

Face ao exposto, solicita-se a publicação da resposta, em conformidade com o disposto no artigo 26.º do mencionado diploma legal.

Com os melhores cumprimentos,

Paulo Águas
Reitor da Universidade do Algarve