Em 1849, os portugueses tiveram uma ideia: legalizar o jogo em Macau de modo a enriquecer os cofres do Estado. Mais de 170 anos depois, Macau tornou-se não só na capital asiática dos jogos de sorte e azar, como no maior centro de jogo do mundo, superando cidades como Las Vegas ou Monte Carlo. Durante décadas, o jogo em Macau foi operado por cerca de duas centenas de casas de diversão, que pagavam renda ao Estado português e que ofereciam apenas jogos tradicionais chineses. Nos anos 60, no entanto, o monopólio do jogo macaense foi oferecido à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, que introduziu na ilha asiática os modelos de jogo ocidental que hoje caracterizam a região.
De repente, os chineses podiam jogar poker, apostar em corridas de cavalo, tentar a sua sorte na roleta, e comprar bilhetes de lotaria. Em 1999, quando o controlo da região autónoma de Macau transitou de Portugal para a China, muitos empresários temiam que a capital asiática do jogo fosse mudar para sempre. Mas a China mostrou-se desde cedo receptiva à existência de casas de jogo na região…

A era de Stanley Ho

A partir de 2001, o negócio do jogo em Macau passou a estar aberto ao investimento de empresários do sector privado. Mas se o objectivo passava por combater o monopólio macaense da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau, não se pode dizer que a proposta tenha sido bem-sucedida. Sob a liderança do magnata de Hong Kong Stanley Ho, o jogo em Macau passou a ser regulado por pouco mais do que 6 grandes aglomerados empresariais, entre os quais se incluem o Sands Macau e a SJM Holdings. Em 2020, Stanley Ho faleceu após vários meses de hospitalização. Ainda assim, existem poucos indícios de que a sua morte poderá significar uma mudança na maneira como a indústria macaense do jogo é regulada. Mas se por um lado a região continua a ser controlada por um pequeno número de grandes empresas, por outro é cada vez mais evidente que a posição de Macau enquanto centro mundial do jogo se postula mais forte do que nunca.

Dependência económica extrema

Enquanto que na Europa e nos Estados Unidos o casino online se tem vindo a mostrar como a maior ameaça à competitividade e continuidade da instituição clássica do casino, em Macau o negócio do jogo continua a crescer a olhos vistos, mesmo após o período de suspensão económica excepcional que se viveu na China desde o primeiro mês do ano. Se assim não fosse, de resto, a economia da região autónoma corria o risco de se afundar numa recessão sem precedentes. Tal como Mónaco não poderia existir sem a sua política de isenção de impostos e indústria turística, Macau não seria a mesma sem os seus inúmeros casinos. Quase 50% da economia de Macau está directamente relacionada com a indústria do jogo, sendo que mais de 70% dos impostos taxados pelo governo macaense têm como origem os casinos e casas de diversões.
Mas a sobrevivência económica de Macau não depende em exclusivo da sobrevivência dos seus prósperos casinos. Na realidade, está intrinsecamente conectada ao crescimento económico de outros países asiáticos, de entre os quais se destaca a China. Afinal, é da “terra-mãe” que vem a maior parte do capital investido na riquíssima indústria do jogo macaense.

Uma realidade conveniente

Ao longo das últimas duas décadas, Macau tem sido extremamente útil para a economia chinesa, e em particular para os empresários endinheirados que pretendem escapar ao controlo agressivo do Estado Chinês. Infelizmente, os jogadores que frequentam as inúmeras casas de jogo de Macau (que incluem o “português” Casino Lisboa ou o gigantesco Sands Macao) nem sempre viajam até à região autónoma com as mais honestas intenções. Corrupção e fraude fiscal acontece em todos os países do mundo, mas em Macau a lavagem de dinheiro é um dos principais motores da economia. Até hoje, continua a ser pouco claro até que ponto a China pretende regular de maneira eficiente os crimes financeiros que são cometidos na região autónoma.
No entanto, existem sinais positivos que apontam para um crescente controlo dos casinos macaenses.
A introdução de um sistema de fichas, em que todo o dinheiro deve ser verificado antes de poder ser jogado, contribuiu para a diminuição do impacto da lavagem de dinheiro, que continua ainda assim a ser comum e possível. Além disso, os casinos podem desde 2011 negar a entrada a indivíduos nos seus estabelecimentos. Esta medida aparentemente coerciva serve para manter jogadores compulsivos e fraudulentos longe dos casinos, efectivamente colocando-os numa lista negra de clientes. De modo a proteger os interesses da sua indústria de casinos territoriais, o licenciamento de casinos online em Macau é proibido. Apesar da recente criações de novas regras de controlo dos casinos, continua a existir muito por fazer no que toca à corrupção e à exploração de Macau por parte de empresários ricos vindos da China, de Hong Kong, ou de Singapura.