Artigo de opinião por Ludovico Pantaleão
A GRUNHICE DOS CENSORES DO FACEBOOK,
O COMBATE CIDADÃO À PEDOFILIA
E O CARÁCTER DIVINO E SUPERIOR À LEI
DE MARK ZUCKEMBERG E SEUS ACÓLITOS
A atávica grunhice dos censores encontra-se documentada ao longo da história. Disso são claros exemplos as polémicas ameaças de Relvas a jornalistas, as andanças de um certo curso de água ali para as bandas do Porto, ou a fúria censória dos senhores inquisidores do estaminé virtual criado por Mark Zuckemberg.
Nos últimos tempos temos vindo a ser bombardeados com notícias da sanha persecutória dos censores facebookianos e com tantas outras pérolas que, se não fossem abjectas, iriam certamente suscitar algumas expressões de espanto e ainda mais gargalhadas do que o curriculum de Passos Coelho ou do Sô Dôtor da Mula Ruça Relvas.
Iremos apenas focar alguns casos mas muitos outros poderiam ser lembrados.
Quem se não lembra do surgir de notícias sobre a caçada a elefantes do Rei de Espanha e o facto da empresa El Corte inglês organizar caçadas a espécies protegidas. Nessa altura, muitos foram os que denunciaram esse crime contra a vida animal da parte de alguém que, à época, era presidente honorário do WWF – Espanha. Acreditando que a verdadeira violência consiste no abate de espécies protegidas e não na sua denúncia, muitos foram os que fizeram acompanhar a denúncia nos seus murais por fotos de elefantes mortos. Como a tradição de grunhice imperou no espírito iluminado dos censores, os bloqueios choveram como bíblica praga do Egipto. No tocante a este assunto os Padrões de Comunidade do Facebook dizem o seguinte sobre «conteúdo gráfico”:
As pessoas utilizam o Facebook para partilhar eventos através de fotos e vídeos. Apesar de percebermos que as imagens gráficas são uma componente habitual em eventos atuais, é necessário equilibrar as necessidades de uma comunidade diversificada. É proibido partilhar conteúdos gráficos para fins de prazer sádico.
Ora, como facilmente se pode entender (até para os que possuem uma licenciatura Relvas Style – por questões que se prendem com a não exclusão dos senhores censores nesse grupo –), quem denuncia não tem nenhum prazer em o fazer, fá-lo por uma questão de consciência cívica, por, como no presente caso, se opôr frontalmente a manifestações com fins de prazer sádico sobre animais. Curiosamente, o FB diz uma coisa e faz outra. Bloqueia quem denuncia e deixa passar páginas dedicadas a prazeres sádicos sobre animais como é o caso das páginas apologéticas das touradas. Incongruências entre o dizer e o fazer, simples obtusidade de espírito, ou tiques ditatorias? A pergunta fica no ar!!!!
Mais recentemente o fenómeno da chuva de bloqueios repetiu-se porque um grupo de pessoas que consideram inqualificáveis as práticas pedófilas e consideram ser um serviço á comunidade a denúncia do aparecimento no Facebook de páginas apologéticas ou com conteúdos pedófilos decidiu denunciar o facto do Facebook albergar páginas com os seguintes títulos let´s make legal the child pornography e legalize relationships between children and adults… e com o facto de estas conterem post’s como “If she’s old enough to bleed she can do the deed” ou “wanna feel the warm of an 8 years old child”. A denúncia destas páginas às autoridades facebookianas levou ao encerramento das páginas e, pasme-se, ao bloqueio dos que as tinham denunciado (nuns casos foi apenas de 1 dia, noutros de 3, outros de uma semana e houve até quem tivesse levado com um mês de bloqueio).
Quem se der ao trabalho de ler essa imortal peça de oratória onanística que dá pelo nome de Padrões de Comunidade do Facebook não vai poder deixar de notar o que nela se diz sob o título «Nudez e pornografia”:
O Facebook tem uma política rigorosa que proíbe a partilha de conteúdo pornográfico e impõe limites à nudez. Ao mesmo tempo, queremos respeitar o direito que as pessoas têm de partilhar conteúdo pessoal importante, quer se trate de fotos de uma escultura como o David de Miguel Ângelo ou fotos familiares de uma mãe a amamentar.
Ficamos felizes em saber que estamos perante uma “política rigorosa”, lamentamos que não inclua uma única menção a questões de pedofilia ou gerontofilia. Gostaríamos igualmente de saber quais os limites impostos á nudez. É que se o David de Miguel Angelo é algo que, devido a ser tão conhecido, faz parte dos aparentemente deficientes conhecimentos culturais dos censores facebookianos, temos sérias dúvidas do destino a que estariam sujeitos os que publicassem albuns de fotos dedicados ao tema arte e erotismo. Em poucas palavras, será que é possível publicar uma imagem retirada de uma ânfora grega dedicada ao Deus Príapo? Será que poderemos publicar uma imagem desse exemplar de arte popular oriundo das Caldas da Rainha sem sermos acusados de pornografia ou de estar a usar as fotos de perfil dos senhores censores?
Mas não, quem partilha informação destinada a alertar os utentes do Facebook – demonstrando assim uma maior competência na defesa dos próprios interesses do Facebook do que os mastins com carta inquisitorial de censores do Srº Mark Zuckemberg – é condenado a um bloqueio com penas diferenciadas devido a um mesmo “crime”, num julgamento sumário e sem direito a defesa sem ser a posteriori, em que só toma conhecimento da acusação no mesmo momento em que toma conhecimento da pena. Que ironia: tantos atropelos às liberdades, direitos e garantias do cidadão virem de uma plataforma situada no país que um dia sonhou ser “the land of the free”.
Acaso se julga o Facebook uma entidade divina superior à Lei?
Aparentemente sim e temos vindo a assistir incrédulos a processos kafkianos como não temos ficado insensíveis à criação de mecanismos orwellianos no Facebook.
Para além das constantes violações da lei em questões de dados pessoais e transparência no tratamento e destino a dar a esses dados – que motivou um então estudante austríaco de Direito a intentar uma acção legal contra o Facebook e a abertura de um site dedicado a reunir denúncias e informação sobre questões legais daí derivadas ocorridas no espaço europeu, muito se tem falado sobre as ferramentas de reconhecimento facial do Facebook e a obrigatoriedade que o facebook impõe cada vez mais frequentes de andar a identificar fotos de amigos – actualmente sob investigação por parte das autoridades norueguesas como refere na blogosfera o esquerda.net e objecto da criação de um manual de defesa aqui na Tugaleaks. O mesmo facebook que agora pretende exigir aos seus utentes a digitalização e upload de imagens de documentos oficais sem ter legitimidade nem base legal para o fazer.
Legenda: cortesia de RiseUp Portugal – click para ampliar
Com que objectivos? Acreditamos que os nossos leitores possuem inteligência, cultura e sentido crítico mais desenvolvidos do que o Srº Mark Zuckemberg, seus acólitos censores e trupe de controleiros. Por esse motivo não iremos responder a esta questão.
Resta-nos a consolação de ver menos duas páginas pedófilas no Facebook, o desejo de que haja uma revisão de objectivos, procedimentos e processos por parte do Facebook e a certeza de que, tal como já fizemos no passado (https://tugaleaks.com/censura-facebook.html ) não deixaremos passar despercebidas nem em branco as denúncias de atropelo à liberdade de expressão, partilha de informação, direito à indignação, do direito que todo o ser humano tem a um julgamento justo (mesmo que este seja fruto da simples obtusidade do Santo Ofício Facebookiano) e do direito que todo o ser humano possui de saber da afectação e uso a dar aos seus dados pessoais.
Artigo de opinião escrito por Ludovico Pantaleão