Chama-se Henrique e provavelmente se colocássemos aqui a morada dele, seria chateado por alguém.
Ele é o programador principal da extensão para Chrome conhecida como Ahoy! que desbloqueia de forma automática os mais de 200 sites que foram bloqueados nos últimos meses.
Esta é a primeira entrevista do homem que, sem querer crédito, está a ajudar muitos portugueses a ultrapassar a censura imposta à sua Internet.
O que nos podes dizer sobre ti? Quem és e porque é que criaste o Ahoy!?
Desde pequeno que sempre me interessei por informática. Desde pequeno que também sempre fui contra injustiças e abusos de poder. Agora que sou mais crescido, sinto que tenho alguma possibilidade de fazer a diferença. O Ahoy! não foi inicialmente criado por mim, foi um pequeno plugin que nasceu das Mãos do Rafael Almeida, quando o Pirate Bay foi inicialmente bloqueado. Ele, em conversa connosco, lembrou-se que seria bastante útil ter uma maneira simples de aceder ao Pirate Bay, sem requerer alterações de hosts. No entanto, como utilizava apenas um proxy e que não tinhamos controlo, acabou por deixar de funcionar com o tempo. Foi mais um acto simbólico para mostrar que não estamos parados nem contentes com o que estão a fazer. Foi aí que nasceu o conceito da Revolução dos Bytes.
No entanto, só quando o memorando da IGAC foi assinado é que percebi que o Ahoy! precisava de voltar. Dediquei umas boas horas à causa, e rescrevi a versão dois, mais complexa, que tinha uma lista dinâmica de sites e de proxies. Pegamos também no conceito de Revolução dos Bytes e decidimos iniciar este movimento cívil que combate a censura e a falta de liberdade na internet.
Porquê o nome Ahoy!?
Como o plugin original veio do Pirate Bay ter sido bloqueado, como Ahoy! é a interjeição utilizada pelos piratas, utilizamos Ahoy! porque era utilizado para “comunicar” com o Pirate Bay.
Já recebeste alguma ameaça por teres criado o Ahoy! ou esperas recebe-las no futuro?
Não, até agora tem sido tranquilo. Espero não receber nenhuma, porque não estamos a fazer nada de ilegal. Não fazemos mais do que um comum serviço de VPN/Proxy não faça. No entanto, se algo acontecer ao Ahoy!, o projecto é OpenSource, pode ser que alguém volte a pegar nele.
Existe uma versão para Chrome. Estão previstas outras novidades além desta versão?
Sim, temos a versão para Firefox e Opera já em testes finais, e hão de ser lançadas brevemente.
Para dispositivos móveis, estamos a trabalhar numa versão para Android.
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Quantos sites estão adicionados no Ahoy! neste momento? São sites de pirataria ou outros sites que nada têm a ver com o Memorando?
Temos cerca de 230 sites na lista. Para além do Uber, que é um caso à parte, são mais ou menos 190 bloqueados por causa do Memorando, e os restantes 40 bloqueados devido ao SRIJ.
E achas que estes bloqueios são efectivamente necessários ou, por outro lado, são demasiado restritivos da liberdade das pessoas?
Compreendo a motivação mas sou contra. Por vários motivos. O mais forte é que ninguém tem o direito de me presumir culpado de pirataria e assim vedar-me acesso a sites. Quem pratica a dita “pirataria” é responsável pelos seus atos. Eu posso querer aceder ao site por algum motivo (nem que seja obter contacto dos criadores) e não consigo porque está bloqueado. Para além disso, da maneira que está feita a coisa, onde uma entidade privada como o MAPiNET, que defende vários lobbies, tem o poder de bloquear sites sem intervenção de um tribunal, mais contra sou.
Alguma vez foste contactado por esses lobies ou outros que pediram para parares de actualizar a aplicação?
Até agora nunca.
E esperas vir a ser tendo em conta os lobies que vês e as coisas que têm acontecido?
Não era algo que me surpreendesse, para ser sincero.
Se pudesses mandar uma mensagem aos lobies e aos utilizadores do Ahoy! o que dirias a cada um deles?
Diria que percebo que eles têm que defender os interesses dos seus associados, mas isso não significa que não haja regras. A melhor arma contra a pirataria não é bloquear a torto a direito. Para se combater eficazmente a pirataria devem-se oferecer melhores alternativas. Um bom exemplo, para a música é o Spotify. Ou mesmo como a Paramount fez agora e disponibilizou 100 filmes gratuitos no YouTube. O sector do audio visual tem que saber adaptar-se aos tempos em que vivemos.
Obrigado a todos os que confiam no Ahoy! diáriamente para contornar os bloqueios de que hoje somos vitimas! Gosto muito de trabalhar para vocês, mas espero sinceramente que dentro de pouco tempo já não seja mais necessário utilizarem o Ahoy!.
Gostaste? Então faz o download do Ahoy! e navega livre.