Não há como enganar. Em 2020, a Internet é uma plataforma muito diferente daquela que utilizávamos há 10 anos atrás. Outrora encarada como um meio tecnológico revolucionário, a Internet tem passado por várias transformações ao longo dos últimos anos. Para desespero dos mais optimistas hacktivistas e programadores, o mundo online pertence cada vez mais às grandes marcas e às empresas multinacionais, estando cada vez mais controlado por interesses económicos, restrições de acesso, e medidas de controlo e censura.
Aaron Swartz, o “inventor” da Internet
Para Aaron Swartz, este seria um cenário de pesadelo. O programador norte-americano de Chicago é uma das personalidades mais influentes da história da Internet, e um dos maiores defensores de um espaço online livre, transparente, e acessível a todos. Com apenas 15 anos, Swartz revolucionou o mundo dos direitos de autor com a criação do Creative Commons, um sistema que permitia aos autores definir de forma concisa como pretendiam coordenar os direitos das suas obras. Anos mais tarde, tornou-se um dos co-fundadores do Reddit, uma rede social conhecida pela sua significância social e dimensão política. Foi além disso o criador do sistema de feed RSS, que serviu de modelo e inspiração para o funcionamento da maior parte das redes sociais da actualidade, desde o Facebook ao Twitter. O mais impressionante? Swartz fez tudo isto antes dos 26 anos. Foi com essa idade que, sozinho no seu apartamento de Brooklyn, foi encontrado enforcado e sem vida, vítima de um alegado suicídio. A sonho utópico de uma Internet livre, concebido por um ambicioso e ingénuo Swartz, tinha oficialmente chegado ao fim.
Lutar contra o sistema… e perder
Muitos dos amigos, familiares, e fãs de Swartz acreditam que o governo dos Estados Unidos é indirectamente responsável pelo seu suicídio. Nos últimos anos da sua vida, Swartz esteve envolvido num custoso processo jurídico. Acusado pelo Governo de roubar documentos, Swartz enfrentava uma severa pena de prisão. Mas ao contrário de outros hackers, que utilizavam o seu conhecimento para roubar cartões de crédito ou aceder a contas pessoais, Swartz nunca utilizou a Internet para proveito próprio. De resto, os documentos a que este acedeu de forma ilegal estavam supostamente registados como conteúdo público, mas eram vendidos e regulados por uma organização privada sediada na Europa. Um negócio que fazia milhões todos os anos com o aluguer de documentos que deviam ser considerados de acesso livre.
Swartz acreditava na Internet como um veículo de transmissão de informação. O programador e hacktivista de Chicago acreditava ainda que, no mundo digital, todos os conteúdos deviam ser livres. Afinal, estes não suportavam qualquer custo de produção. Mas as entidades governamentais não partilhavam desta opinião. Em 2010, a proposta de lei SOPA (Stop Online Piracy Act) foi lançada nos Estados Unidos, contendo regras bastante severas relativas ao controlo de conteúdo online. Com a ajuda de outros hacktivistas e com um forte apoio popular, Swartz conseguiu mobilizar os recursos necessários para impedir que esta proposta devastadora passasse no Senado. Esse momento de viragem, que marcou a “criação” de um Aaron Swartz político, esteve na base da perseguição de que este foi alvo nos anos seguintes.
A ideia basilar de reprodução digital
Hoje em dia, os termos reprodução mecânica e reprodução digital não fazem parte do léxico comum. A discussão relativa aos conteúdos online parece ter-se perdido para sempre. Por algum motivo, a maior parte dos criadores e empresas não vê diferenças entre os conteúdos ou produtos disponibilizados na Internet e aqueles disponibilizados na “vida real”. Mas Swartz estava ciente dos seus aspectos. A reprodução mecânica é cara, porque implica materiais reais. A reprodução digital, por sua vez, é gratuita, porque permite uma multiplicação eterna. Swartz acreditava que, como um ficheiro pode ser copiado infinitamente, este devia ser livre. Mas a ideia foi combatida de forma persistente pelas autoridades norte-americanas. Hoje em dia, um ficheiro pode ser tão ou mais caro que um produto real, e embora ainda exista muito conteúdo digital disponível de forma gratuita, são cada vez menos os criadores que utilizam a Internet para partilhar informação sem procurar um lucro associado. Mesmo as redes sociais, supostamente pautadas por conteúdo grátis, são hoje tuteladas pela obsessão dos likes e views e patrocinadas pelos milhões do sector publicitário.
Uma Internet menos livre, mas mais segura
Hoje em dia, as redes sociais são cada vez mais regradas e seguras, e mesmo sites como o casino online de 888 e outros serviços semelhantes obedecem a regras estritas de controlo e licenciamento. Se por um lado é pelo menos pertinente revalidar o debate que “roubou” a vida Aaron Swartz, por outro lado é também importante reconhecer que as medidas de segurança implementadas online têm as suas vantagens. A primeira diz respeito aos criadores, que vêem o seu trabalho valorizado. A segunda diz respeito aos consumidores, que contam com um espaço digital mais seguro e estável. No entanto, a Internet utópica de Aaron Swartz parece ter-se perdido completamente pelo caminho.