O Tugaleaks apresenta entrevista com o jornalista que investigou a licenciatura de Miguel Relvas há um ano. Existiram canais de TV pressionados ao silêncio.
É uma entrevisrta que coloca a nu grande parte do que aconteceu com Miguel Relvas. Desde o 12º ano mal feito de Miguel Relvas, passando pela influência de Relvas na RTP, às “desculpas” de Nuno Santos por não colocar reportagens no ar, à aparente falta de coragem de vários órgãos de media a irem contra o antigo temível e influente Miguel Relvas e ao Ministério da Educação por esconder inquéritos.
“Saio como entrei” diz Miguel Relvas. Não nos parece que seja o caso. Entrou Doutor e saiu com o 12º ano.
A entrevista é com Carlos Tomás, na altura jornalista no Jornal O Crime e agora director desse mesmo jornal.
Como tudo começou?
Eu recebi uma denúncia vinda de um professor universitário a dizer que o Miguel Relvas não tinha a licenciatura válida. Foi transmitida a informação ao director do Jornal O Crime na altura e comecei a investigação. A partir do perfil do Miguel Relvas que estava na Wikipedia a indicar que ele tinha frequentado a universidade, enviei dois e-mails: um para a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e outro para a Universidade Lusófona. E ainda um terceiro para o Ministério da Educação para me facultarem o percurso escolar do Miguel Relvas.
Da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa disseram-me que ele nunca frequentou aquela universidade. Ao receber a resposta, insisti junto do Ministério da Educação e junto da Universidade Lusófona, tendo sempre enviado um e-mail para o Gabinete de Miguel Relvas a pedir o seu curriculum, mas nunca me responderam.
Da Universidade Lusófona a resposta foi: só lhe fornecemos os elementos se o Ministro autorizar.
Isto foi uma investigação que começou a 23 de Maio de 2012. Dia 6 de Junho denunciamos o caso no Jornal O Crime.
A Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa foi a única a responder que ele não tinha frequentado aquele estabelecimento de ensino:
Vimos a informar que não se encontra, nos arquivos académicos da Reitoria e da Faculdade de Direito, qualquer processo académico em nome de Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas.
Houve algum interesse dos restantes órgãos de comunicação social?
Depois da primeira notícia no Jornal O Crime, recebo contactos de várias televisões a perguntarem-me se aquilo era verdade. Disse-lhe que podiam confrontar todas as partes. Ninguém pegou no assunto.
Como se desenvolveu a investigação nas semanas seguintes?
Passado 3 edições a 26 de Junho de 2012 sai a manchete “Relvas blinda curso” porque ele não nos deixa aceder ao processo. Lusófona e Lusíada não davam informação.
Quando é que se tornou “público” o caso do Miguel Relvas?
Quando Miguel Relvas resolve dar uma explicação ao Jornal i a explicar como tinha obtido o curso descobriu-se que havia um gato escondido com rabo de fora. O processo só ganha dimensão nessa altura, quando ele está a tentar explicar como está a tirar o curso e que explicou uma forma que levantada muitas dúvidas.
O Crime soube também que ele não tinha tirado o 12º ano de forma transparente. Foi tirado numa escola que deixou de existir (Escola Secundária de Belém-Algués) mas tivemos acesso ao documento que lhe atribui a passagem á disciplina de geografia. É um certificado de habilitações com notas à mão.
E agora mais recentemente, o que tens feito sobre esta situação?
Nos últimos meses pedi o acesso ao inquérito, e nunca ninguém me disse nada.
Miguel Relvas demite-se porque tinha acesso ao inquérito, porque estava nas mãos de um colega ministro dele.
Miguel Relvas mentiu duas vezes na Assembleia da República em 1986 e 1989.
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Houve alguma pressão de algum órgão de comunicação social para abafar o caso que tivesses conhecimento?
Na altura mandei a capa do Crime para o Nuno Santos da RTP e o Nuno Santos não quis saber da capa. Será que a RTP era controlada por Miguel Relvas? Ele disse mais tarde que sofria pressões de Miguel Relvas.
E recebi uma mensagem pessoal do Nuno Santos, quando a bronca estoirou, a pedir-me desculpas por não ter ligado à história.
Como aconteceu com duas alegadas vítimas do processo Casa Pia que desmentiam tudo o que previamente disseram em tribunal.l. Fui à RTP e entreguei a Nuno santos e disse-lhe “Olha oh Nuno tenho isto aqui”. O Nuno Santos ficou com a história, comprometeu-se a por aquilo no ar e alguém no governo impediu que pusessem aquilo no ar.
Haviam muitas pressões governamentais sobre os media e muitos interesses económicos.
Download do relatório sobre a licenciatura de Miguel Relvas
Os artigos do Tugaleaks
Desde 29 de Junho de 2012 que o Tugaleaks publicou artigos sobre este assunto, sendo na altura o único site na Internet, mesmo antes dos restantes órgãos de comunicação social, a falar no assunto.
Na altura o artigo “Onde está a licenciatura de Miguel Relvas? Nem o Governo sabe!” dava conta das informações diferentes que constavam no Site do Governo, no Portal do Governo e na Wikipedia.
Fizemos também uma queixa à CADA pela recusa da AR em nos mostrar os documentos que poderiam comprovar a licenciatura de Miguel Relvas. Nessa queixa, acabámos por ter razão em receber a documentação, mas a AR não a tinha em sua posse.
Miguel Relvas, acabou por “despedir-se” ontem. Com certeza teria já acesso aquilo que seria a sua desgraça: a remoção de uma licenciatura feita “à pressa” na sua desgraça. Dizem que vai emigrar, e nas redes sociais só se vê “vai e não voltes”. Como diria Zeca Afonso, “trás um amigo também”.