Eduardo Jorge de 52 anos, teve um acidente de viação em 1991. Nunca mais foi o mesmo, pois o estado não ajuda. Inicia greve de fome ao fim do dia de segunda-feira.
O Eduardo não desiste. O acidente de viação há mais de 20 anos não o desmotivou da luta.
Actualmente mora a 20km de Abrantes, pertence À coordenação Movimento (d)Eficientes Indignados, direcção da Associação UDF- União Deficiente Fórum, moderador do único fórum português sobre deficiência e administro o blog Tetraplégicos. Faz actualmente um estágio profissional no espaço TIC e apoio á comunidade pertencente á Junta de Freguesia da Concavada e está no 3º e último ano de licenciatura em Ciências Sociais/Serviço Social na Universidade Aberta.
O Eduardo vai iniciar amanhã, a partir das 18h, uma greve de fome. Queixa-se pela inércia do estado e pela fraca qualidade de vida que os deficientes têm.
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O Tugaleaks entrevistou o Eduardo e ficou a conhecer um pouco mais sobre a sua luta e a luta dos restantes deficientes em Portugal.
O que esperas com este protesto e o que vais levar contigo amnhã?
Espero alertar o poder político/opinião pública para a necessidade de sermos nós a decidir as nossas vidas. Queremos uma vida independente e não sermos institucionalizados compulsivamente em lares imundos e ilegais onde passaremos a ser somente um número, como acontece atualmente.
O que vou levar? Tenho seguido o meu coração e não me preocupado com muitos pormenores e pensamentos. Mas já separei: o edredão para me proteger das noites frias; uns metros de plástico para me abrigar da chuva, lençóis para forrar o colchão da cama, máquina de barbear…acho que é só. Comida não vai ser necessária, água compro por lá.
Quando houve um protesto semelhante há alguns meses o Governo recuou em algumas medidas para os deficientes. Esperas que aconteça o mesmo desta vez?
Espero tudo e vou preparado para tudo, inclusive morrer á fome. Quanto ao cumprir promessas ou não, teremos de aguardar se primeiro as fazem.
Como surgiu esta ideia?
Os grupos minoritários não conseguem facilmente passar a sua mensagem. As nossas “armas” são poucas. A greve de fome é uma delas. Nada premeditado. Para mim é uma “arma” como outra qualquer.
Vais ter alguém contigo a acompanhar-te?A realizar greve de fome parece-me que não. Mas terei o apoio e
presença como sempre de quem cuida de mim, Movimento (d)Eficientes Indignados como sempre, das Associações Mithós e UDF, Homens da Luta, Ana Figueiredo e muitos outros amigos da causa.
No teu dia a dia, como tetraplégico, o teu modo de vida podia ser melhor se houvessem mais apoios do estado? se sim, quais?
Sem dúvida nenhuma. Isto não é viver. Viver não é só respirar. Como já disse quero comandar a minha vida e não serem os outros a decidir por mim. A partir do momento que adquires ou nasces com uma deficiência e se não fores rico ou não tenhas quem cuide de ti, o teu destino é ser despejado num lar de idosos. Não me venham com a conversa de conjunturas, crises…não se trata disso. Pois o Estado tem €951,00 para pagar aos lares, mais €482,00 para centro atividades ocupacionais, fora a nossa comparticipação que pode atingir os 85% dos nossos rendimentos e dos nossos familiares, a questão não é falta de verbas. Existe também um programa de acolhimento familiar que Estado comparticipa com €672,00 acrescido de 60% dos nossos rendimentos mas cujo programa as nossas famílias não podem concorrer. Ou seja, pagam ao nosso vizinho para nos tirar das nossas casas ou és enviado para centenas de quilómetros do teu ambiente familiar. Existe também o apoio domiciliário onde o Estado gasta mais uns bons milhões de euros, mas para nós não serve. Só funciona durante as horas úteis semanais. Não existe nos fins-de-semana, feriados, noites e Domingos. Para dar um outro exemplo absurdo: Em Portugal só existem dois lares para pessoas com deficiência física. Um só aceita candidaturas até aos 45 anos e só entras se algum utente falecer, e outro lar desde 2008 que órgãos de comunicação denunciam maus tratos aos seus utentes. O que existe é pouco e mau.
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Para concluir…
Lutamos para que no lugar de comparticipar as instituições e nos obrigar a ser despejados em lares, para que o Estado nos atribua esses valores e crie estruturas sociais adequadas á nossas necessidades e sermos nós a decidir e a fazer as nossas escolhas. Desejamos continuar a viver no nosso bairro ou aldeia, frequentar a nossa escola ou faculdade, conviver com amigos de sempre e viver no nosso meio familiar e não ser obrigados a ir viver num lar sem condições a quilómetros da nossa casa.
Se pudesses deixar uma mensagem ao actual Governo, o que lhes dirias?
Senhores governantes (nosso Presidente da República, com todo o respeito que merece fica fora porque segundo ele está proibido de opinar): deixem-se de nos ignorar e olhar como coitadinhos e merecedores das vossas esmolas. Somos tudo menos isso. Estou muito bem resolvido quanto á minha deficiência. O problema é tudo o que me rodeia. Nós detestamos os peditórios de tampinhas e festinhas solidárias com artistas para termos direito a algo que nos pertence por direito e os senhores nos negam. Preferimos trabalhar do que receber os vossos míseros €197,00 que nos dão de reforma. Os senhores criam excelentes leis, mas esquecem-se de as fazer cumprir e punir infratores. Pois conhecem bem a lei de quotas de emprego que ninguém cumpre. Pergunto-vos também se não se equivocaram sobre os €88,00 que nos atribuem para pagar a alguém que cuide de nós? Será que esses €88,00 não eram para recebermos diariamente? Ninguém no seu juízo normal acharia que €88,00 seriam suficientes para pagarmos cuidadores para nos acompanharem 24h por dia. Alguns dos senhores até me parecem ser inteligentes. Mas… Enviei aos senhores uma comunicação onde explicava tudo isto tim-tim por tim-tim, e escrevia também que estou disponível para conversar e suspender a minha greve de fome caso me mostrem garantias de que estas situações não vão continuar e vão criar condições para termos uma vida digna e independente, caso contrário ficarei em greve de fome até morrer. Chantagem? Não, que ideia, os senhores não sabem o que é isso. Ah, mas nada de decidir sem nós. Nós sabemos o que queremos melhor que todos vós.