O soldado Bradley Manning foi condenado a 35 anos de prisão, esta quarta-feira, dia 21 de Agosto, no tribunal militar Fort Meade, em Baltimore. O jovem soldado, de 25 anos, viu cumprida a acusação de ter passado informação diplomática e ficheiros do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da Améria (EUA) sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque, ao portal de informação Wikileaks.
Foram cerca de dois minutos, a duração do discurso da juíza do exército Coronel Denise R. Lind que ditou a sentença do soldado de 25 anos, que sempre acreditou agir em nome do interesse público do seu país. A juíza sentenciou Manning com 35 anos de prisão, uma pena mais curta do que aquela que a acusação pedia, 60 anos. Manning foi também exonerado do exército e viu as suas divisas descerem de primeira classe privada para privada, o nível mais baixo no serviço militar.
Manning foi considerado culpado de diversas acusações, ao abrigo da Lei da Espionagem, da Lei da Fraude e Abuso Informáticos, e do Código de Justiça Militar.
Contudo, o jovem soldado foi ilibado da acusação de “ajuda ao inimigo”, ou seja, por ter disponibilizado na Internet informações que poderiam vir a ser utilizadas pela Al-Qaeda, o que levaria a prisão perpétua. Os 1294 dias em que esteve na cadeia, desde que foi preso em 2010, no Iraque, onde estava colocado, serão também descontados à sentença.
Segundo o tribunal esta é maior fuga de informação desde sempre na história dos EUA. A informação que Manning passou ao site a WikiLeaks inclui: um vídeo realizado durante um ataque de helicóptero americano em Bagdad, em 2007, onde foram mortos civis, incluindo dois jornalistas da agência Reuters. O jovem soldado, também informou a fundação de Julian Assange de cerca de 250.000 telegramas diplomáticos, dossiers de presos sem julgamento em Guantánamo, Cuba, e centenas de milhares de relatórios de incidentes de as guerras no Iraque e no Afeganistão.
Reações à sentença de Manning
A sentença de Manning provocou várias reações de organizações de direitos humanos e em vários orgãos de comunicação social, como por exemplo, o jornal britânico The Guardian e os jornais norte-americanos Washington Post, e The New York Times.
“Quando um soldado que compartilhou informações com a imprensa e o público é severamente punido, enquanto que outros soldados que torturaram prisioneiros e civis mortos, algo está seriamente errado com nosso sistema de justiça “, disse Ben Wizner, diretor da União Americana para a Defesa das Liberdades Cívicas.
“Este é um dia triste para Bradley Manning, mas também é um dia triste para todos os americanos que dependem de “whistleblowers” (denominados delatores – pessoas que denunciam atividades ilegais às autoridades) e uma imprensa livre para informar, criar opinião e gerar debate público entre os cidadãos”, acrescentou Wizner ao The New York Times. Já os restantes jornais demonstram em editoriais que o ato de informar livremente, com documentos e provas, a opinião pública está ameaçado com o episódio Manning.
O jornal The Guardian considera que Manning fez história, uma vez que foi ele o primeiro delator, pertencente ao sistema a transferir informação digital de interesse público.
As reações não se ficaram por aqui. Para o advogado russo, Anatoli Kutcherena, que defende Edward Snowden, a sentença de Bradley Manning prova que o antigo colaborador dos serviços secretos norte-americanos não deve regressar aos EUA.
“Se antes Edward ainda meditava se valia a pena ou não regressar à pátria, a sentença de hoje mostrou-lhe que não pode esperar julgamento justo e legítimo no seu país”, disse o advogado, citado pela agência Interfax.
Kutcherena acrescentou ainda, que vê “uma ligação direta entre a sentença de Manning nos Estados Unidos e o posterior destino” do seu cliente.
Pedido de clemência
David Coombs, advogado de Bradley Manning, anunciou que vai apresentar um pedido de clemência ao presidente dos EUA, Barack Obama.
Em entrevista ao The Huffington Post, Coombs considerou que 35 anos de prisão é uma pena demasiado pesada e que chega a ser maior do que a aplicada a crimes de pedofilia, por exemplo.
O advogado evoca alguma esperança no pedido, uma vez que mesmo que este seja recusado, possa existir a possibilidade de Manning de uma redução de pena por bom comportamento na prisão, podendo a liberdade condicional ser atribuída após o cumprimento de um terço da pena.
Para além de Coombs também a Amnistia Internacional apelou ao Presidente Barack Obama para que reduza a sentença. “Bradley Manning devia ser tratado com clemência, reconhecendo os motivos que o levaram a agir como agiu e a forma como foi tratado na detenção pré-julgamento”, disse Widney Brown, desta organização que denuncia o cativeiro dos prisioneiros de consciência, ao Guardian.