O evento organizado pelo Tugaleaks teve bastante mais aderência da PSP do que dos manifestantes. Sabe porquê neste relato.

 

Relato do Protesto Anti-repressão Policial

 

Decorreu hoje em Lisboa um protesto contra a violência policial. Até aqui nada de mais num momento histórico em que Portugal se vê confrontado com uma agitação social provocada pelas políticas de um defunto governo que ainda não se apercebeu do fedor pestilencial que a sua acelerada putrefação espalha em redor. Uma pestilência feita de golpadas aos direitos dos portugueses em nome de uma dívida ilegítima e imoral, de uma crise que asfixia e faz cair na insolvência famílias e empresas, uma austeridade….
Austeridade? Nem pensar nisso, nós não vivemos em austeridade, ou pelo menos a PSP não deve encontrar-se nessa situação, uma vez que, para manter a ordem num protesto pacífico, perfeitamente legal e devidamente comunicado ás autoridades competentes, desloca para o local um conjunto de meios desproporcionado.
Por volta das 16h30m estavam no local um conjunto de seis manifestantes e já na praça do Saldanha se podiam ver 8 carrinhas da polícia, uma ambulância, várias viaturas descaracterizadas de onde saiam uns cavalheiros vestidos à civil que ora confraternizavam com os de divisa ora se encostavam ociosos à parede. Alguns tiravam fotos com ar de “paparazzi” saídos de uma telenovela mexicana de escassa qualidade. Lentamente começaram a chegar mais pessoas, tranquílas, alguém trouxe mesmo o cadela a passear… E começaram a chegar mais carrinhas até serem catorze, mais uma ambulância, mais viaturas descaracterizadas, motas e aqueles senhores com estranhas perversões que insistem em vestir-se entre o que seria de esperar num clube de masoquistas e os figurantes de um video de uma cover manhosa dos “Village People”. Pouco depois das 15h30m finalmente vieram uns senhores, com coletes cor de pirilampo luminiscente, colocar uns pinozinhos na avenida da República. Estavam a cortar a estrada enquanto o reduzido grupo de manifestantes conversava pacatamente ao lado da estátua do Duque de Saldanha. E lá veio um senhor e azul, todo inchado da sua importância e do séquito de fardas que trazia atrás de si, dizer que estavam a cortar a estrada para nossa segurança. Agradecemos a cortesia e houve alguém que lhe perguntou o porquê de um tão grande efectivo policial, se se tratava de uma manifestação de polícias? Respondeu que não, que estavam alí para nossa segurança e retirou-se apressado.

 

Relato do Protesto Anti-repressão Policial

Depois começaram a formar uma box à volta do perímetro,todos perfiladinhos a intervalos regulares, de capacetes parecidos com coberturas de cupcake com licor de blue curaçao, nas esquinas e encostados aos prédios dos lados da avenida, magotes de cavalheiros com um estilo casual-chunga e cortes de cabelo curtinhos aguardavam, uns encostados à parede, outros descansando de pé com as pernas abertas, a sua vez de entrar em cena.

Foi então que a aranha convidou a mosca para uma chávena de chá no seu salão…
Perdão, enganamo-nos na história e o que queríamos dizer foi, veio então o senhor fardado com ar inchado dizer que quando desejássemos podiamos ocupar a avenida. O grupo reuniu brevemente e decidiu-se que era absolutamente inadmissível que um conjunto de pessoas que queriam usar do direito constitucionalmente reconhecido à manifestação, que o faziam de modo público e legal contra a violência e a sanha persecutória demonstradas pela PSP contra aqueles que discordam do rumo, ou falta dele, político de Portugal, tivessem de o fazer cercados por figuras ameaçadoras, num cenário de campo de concentração. Por esse motivo foi decidida a não ocupação da avenida e que o protesto decorreria junto à estátua e foi esta a decisão comunicada a quem de direito. Durante todo o tempo o senhor importante vestido de azul ouviu e recusou-se a falar com alguns membros do protesto que foram comunicar a decisão do colectivo dos manifestantes demonstrando, não apenas a ignorância das mais simples regras de cortesia e cordialidade como, e em última análise, desconhecer que um assalariado popular deveria pelo menos responder a quem com os seus impostos lhe paga o vencimento.
E ficamos junto à estátua, a polícia mantinha uma posição de força e foi preciso esperar para que alguns, poucos, meios policiais desmobilizassem. Entretanto o grupo de manifestantes mantinha-se coeso, encenavam-se detenções e confisque de cartões de máquinas fotográficas, tiravam-se fotos enquanto se difundia via stream. Os agentes à civil pululavam, carrinas aguardavam ameaçadoras nas esquinas do Saldanha. Finalmente desmobilizamos, recolhemos o material do stream e da manifestação e dispersamos. Um infiltrado seguiu-nos quase até à estefânia quando nos viramos para trás e o encaramos. Hesitou, baixou o olhar e segiu apressado tentando passar despercebido…

Disclaimer: alguma eventual marca de ironia presente no texto deriva de questões de estilo de autor e não pretende substituir-se à competência hoje demonstrada pela PSP no que toca a cobrir-se de ridículo.

 

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Ludovico Pantaleão