O caso foi há alguns meses noticiado no Tugaleaks e deu origem a um processo de averiguações interno na GNR. Um serviço de “Taxi da GNR”, pago pelos Portugueses.
Noticiado pelo Tugaleaks em Julho deste ano, o uso de um carro da GNR deu que falar e deu ainda origem a um processo de averiguações. Dois guardas da DT Carcavelos em patrulha numa auto-estrada foram retirados do seu serviço regular de patrulha para irem ao encontro do Tenente Coronel Leal Gouveia e da esposa, na antiga fábrica da Lusalite. Um desvio de praticamente 30km para transportar o Tenente Coronel e a esposa. Curiosamente, o transporte ocorreu num dia de chuva o trajeto foi até o carro do Tenente Coronel, que terá alegadamente seguido viagem até casa.
Na altura, a GNR afirmou ao Tugaleaks que “[n]o atinente aos factos descritos e que dão conta do transporte do Oficial identificado e da sua esposa, foi instaurado pelo Comando de Lisboa processo interno no sentido de averiguar as circunstâncias em que o mesmo foi realizado“.
O Tugaleaks sabe que os militares envolvidos e a sua Comandante, M. S., vão ser ouvidos para a semana pela GNR, para dar continuidade ao processo instaurado pelo Comando de Lisboa.
No entanto, existiu uma alegada reunião entre o Tenente Coronel e a Comandante, com vista a alterar os factos descritos e torna-los mais favoráveis aos oficiais.
Na alegada reunião, tida no início da semana passada no Comando de Lisboa, na Calçada do Combro, esteve presente a Comandante do Destacamento de Trânsito de Carcavelos e o Tenente Coronel Leal Gouveia. Desta reunião, onde as alegadas perguntas que iriam ser feitas para a semana já eram do conhecimento de ambos, foi preparada uma alteração à versão “original”, contada no nosso artigo em Junho passado:
– Não houve uso de veículo para fins pessoais, mas sim para prestar socorro a um superior hierárquico e camarada: devido ao peso do Tenente Coronel, que segundo uma fonte assume-se ser de 120kg ou mais, a estratégia será a de fazer ver que a viatura foi prestar o auxílio ao Tenente Coronel. No entanto, não existiu qualquer intervenção do INEM e a patrulha deixou o Tenente Coronel ao pé do seu carro, particular, depois de percorrer 30km e sair da sua rotina, habitual e obrigatória, do patrulhamento da auto-estrada. “Se o Tenente Coronel estava doente ou com algum problema de saúde, não se chamava a GNR, chamava-se o INEM” diz-nos uma fonte que teve conhecimento dos factos.
– A ordem não foi dada como os militares perceberam: por telemóvel, existiram alegadas ordens para ir buscar o Tenente Coronel tendo sido dado o número de telefone deste ao responsável da patrulha. No caso da ordem ter sido mal dada, ou interpretada mal, questiona também a mesma fonte, “porque é que não houve processo disciplinar, quer antes da notícia no Tugaleaks ou quer mesmo depois desta acontecer“?
Após esta reunião, os três militares – uma pessoa no rádio que deu a alegada ordem a mando da Comandante e os dois militares envolvidos na patrulha – foram notificados para comparecerem na GNR, em Santa Apolónia, Lisboa, na próxima semana para serem ouvidos. Na mesma “notificação”, foi-lhes alegadamente indicado o “teor” do seu depoimento e como deveriam “contar” os factos.
Sobre os presumíveis crimes de coação, peculato e abuso de poder, a GNR nada disse, tendo esta sido questionada há uma semana atrás.
O mesmo silêncio foi recebido pelo nosso órgão de comunicação social pela Polícia Judiciária Militar, questionados na mesma altura da GNR.
A Comandante, contactada pelo Tugaleaks por telefone, não se mostrou disponível para comentar o caso.
A única reacção não oficial vem de uma outra fonte, que nos conta que a comandante “anda de mau humor nos últimos dias“. Não conseguimos imaginar nem iremos especular sobre o motivo para tal estado de espírito.