Operação realizada em Alcochete foi “uma bronca”. GNR entrou na casa errada, com escudos e armas de alto calibre, à procura de um presumível traficante que… vivia na casa ao lado.

Parece um filme de cinema, mas foi bastante real. Esta terça-feira, em Alcochete, pelas 11h, a GNR entrou na casa de Cheila Silva, quando esta tinha acordado há minutos.
A porta foi aberta à força, pela Unidade de Intervenção do Comando Territorial de Setúbal, não tendo a visada ouvido qualquer toque de campanha. Após a abertura de porta, vários militares com escudos, armas de alto calibre e luzes invadiram a sua casa.

Cheila foi algemada e tratada como uma criminosa. “Algemem-na” e “mãos atrás das costas” foram palavras tecidas pelos militares após a entrada. Cheila tentava-se aperceber da situação; ia tentando falar com alguém. “Calada, apertem bem as algemas”, diziam-lhe friamente.

Quando estavam prestes a sair com Cheila algemada, descalça, com uns calções e uma t-shirt, alguém pensou em perguntar-lhe como ela se chamava e “onde estava” um homem. Afinal procuravam um homem, não uma mulher.

Repararam finalmente no erro. Entraram na casa errada. Fonte da GNR informou ao Tugaleaks que o mandato era para um andar na fração D, e foram à fração F. “Foi uma bronca quando o comando soube disto”, indica a mesma fonte.
Quando repararam no erro, as coisas ficaram mais calmas. Cheila deixou de estar algemada, passou a estar rodeada de militares da GNR preocupados com ela.

Tal como explica no Facebook, esta foi “a pior experiência” que passou na vida. Não ganhou para o susto, mas podia ser muito pior.
O Tugaleaks falou com Cheila e sabe que esta situação divulgada, porque “isto não pode acontecer” e que não está colocado de parte um pedido de indemnização cível”.“Se cá estivesse o meu filho seria ainda pior”, contou ao Tugaleaks.

 

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Este engano foi na sequência de uma operação do Destacamento Territorial do Montijo, no decurso de um processo-crime delegado pelos serviços do Ministério Público da Moita – 2ª Secção Criminal da secção de Almada da Comarca de Lisboa. Na operação, que decorreu em Alcochete (local onde se deu o “engano”), Odivelas, Moita e Montijo, foram detidas várias pessoas, mas o Tugaleaks sabe que uma delas saiu em Liberdade. O crime? Tráfico de estupefacientes, nomeadamente cocaína.

Das buscas resultou a apreensão de 1110 doses de cocaína, 1 arma de fogo, 44 munições de vários calibres, 20 armas brancas, um colete balístico, 47 telemóveis, entre outros itens.

 

GNR confirma situação

O Tugaleaks contactou a associação sindical com maior representatividade, a APG/GNR. Nuno Guedes, do núcleo de Lisboa, informou-nos que a APG/GNR “não comenta o episódio por questões de operacionalidade e segurança interna” e remeteu os esclarecimentos adicionais para o Gabinete de Imprensa da GNR. Acrescentam apenas que lamentam o sucedido, “não é hábito acontecer”, e esperam que os eventuais danos provocados sejam devidamente reparados.
Por sua vez, o Major Marco Cruz das relações Públicas da GNR informou que “por lapso, foi feita a entrada numa residência que não era visada” e que “foi identificado de imediato o erro, tendo a GNR assumido todas as responsabilidades decorrentes dessa ação, designadamente os danos materiais causados”.
Informa ainda que não foi precisa “qualquer assistência hospitalar à visada, apesar de ter sido disponibilizada pelos militares da GNR presentes no local”, facto confirmado pelo artigo de Facebook de Cheila Silva.

Apesar de um grande susto, Cheila não concorda nem se conforma com a forma como foi tratada.