A gravação feita alegadamente pela mãe de Fábio Cruz entre Carlos Silvino e o filho não passa de uma gravação falsa, afirma uma perícia forense.
Em Portugal não existem empresas ou serviços públicos capazes de fazer uma perícia forense a uma gravação de chamada que seja usada em Tribunal. Desta forma, o Ministério Público pode fazer prova com informações falsas, e o juiz pode acusar pela mesma bitola.
Foi isto que se passou no processo Casa Pia e na gravação que originou toda a história e o escândalo nacional que durante anos marcou os meios de comunicação social deste país.
Uma Procuradora da República no dia 10 de Junho de 2007 ousou perguntar “Será Fábio Cruz?” ao que Felícia Cabrita, que falava ao Tribunal nesse dia, respondeu: “Com certeza. (…) Em primeiro lugar, tentei falar com o Joel e com a família, tudo isto me foi confirmado, entretanto tive acesso a uma cassete que a mãe nos últimos tempos gravou em relação ao arguido Carlos Silvino, portanto, conversas entre o arguido Carlos Silvino e o menor, portanto, obviamente que quanto a … conversas com um teor pedófilo, portanto, em que era sugerido à criança que se masturbasse, e etc., eu penso que não vale a pena estar aqui com pormenores“.
Os “pormenores”, como diria a actual jornalista do Sol, fazem toda a diferença.
Õ Tugaleaks tentou contactar a referida jornalista pedindo um comentário a esta situação, que não prestou quaisquer declarações.
No documento da perícia, ao qual o Tugaleaks teve acesso, é indicado que “salienta-se, ainda, que o material questionado apresenta indícios de cortes durante o diálogo ocorrido entre o falante do gênero masculino e a criança conforme demonstrado no quadro de análise do áudio a seguir sendo, portanto, que não é possível garantir que não houve manipulação fraudulenta no arquivo“.
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Porquê no Brasil?
No Brasil, ao contrário de Portugal, existem pessoas especializadas em análise de conversas telefónicas. Uma das duas pessoas contratada para fazer a perícia trabalha para inclusivamente para o Ministério Público Brasileiro. É uma disparidade de meios, motivada segundo o Tugaleaks apurou por falta de recursos económicos em Portugal.
Antes do contacto no Brasil foi contactado um perito nos Estados Unidos, mas este por não perceber o dialecto recomendou as peritas Brasileiras.
As perícias foram pagas por particulares, e rondaram os 6 mil euros.
As peritas Brasileiras são lacónicas: “Há parâmetros díspares. As vozes não batem com os dos falantes e outros sons estão prejudicados, sendo impossível de análise do ponto de visita pericial devido aos cortes na gravação, áudio “estourado”, etc, e isso leva a um resultado negativo. Esse suspeito (Carlos Silvino) não poderia ter sido condenado com base nessa prova. E tem mais, com aqueles cortes na gravação não há como excluir a possibilidade de alguém ter feito uma manipulação fraudulenta no áudio. O diálogo está todo cheio de interrupções na gravação e isso não ocorre em grampos telefónicos [escutas telefónicas] nem em gravações ambientais”.
Por último, há ainda o simples facto de que Carlos Silvino sempre negou esta gravação.
Contactado o advogado de Carlos Silvino, Dr. Pedro Dias Pereira, informou apenas de que esta perícia forense faz parte de um recurso extraordinário que o advogado está a fazer, para ser entregue a partir do término das férias judiciais, que não tem apenas a ver com esta perícia mas que esta é um dos pontos principais.
O Tugaleaks não está a afirmar que Carlos Silvino não é culpado dos crimes que foi acusado. Estamos a afirmar que a prova de culpa usada pelo tribunal, segundo os únicos peritos consultados, não é verídica.
Como sempre, o trabalho de um jornalista á recolher factos e não formular acusações. E os factos são simplesmente estes: foi usada uma gravação para condenar Carlos Silvino e que espoletou todo o processo Casa Pia que agora se verifica ser falsa.
E assim vai a justiça em Portugal.
Fazendo prova da existência da perícia, o Tugaleaks disponibiliza a primeira página da mesma: